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Oi, pessoal! Todos gostam de uma previsão. O conceito do oráculo nos encanta desde o início da humanidade. Previsões são engajantes e atraem muitos cliques. Mas faz sentido fazer ou utilizar previsões? Se sim, de quem? No artigo de hoje, vou cobrir algumas das piores previsões sobre tecnologia e os aprendizados que podemos extrair delas.
Antes de entrar no texto, gostaria de agradecer a todos os leitores que enviaram mensagens nos últimos dias. Fiquei doente por quatro semanas, o que me impediu de publicar textos aqui no bsb. Felizmente, estou recuperado e mais animado do que nunca! Fica a lição de deixar um estoque de artigos prontos para qualquer imprevisto.
Se tiver apenas um minuto, segue o resumo do texto de hoje:
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Larry Ellison, Steve Ballmer, Steve Jobs, Paul Krugman, Robert Metcalfe, Andy Grove são alguns dos principais pensadores do mundo moderno. Eles também fizeram previsões completamente incorretas de temas que mudaram o mundo de tecnologia.
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Ao lermos uma previsão, é fundamental entender qual o incentivo e potencial conflito de interesse que possa existir.
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“É difícil fazer um homem entender algo, quando seu salário depende de ele não entender isso.”
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As melhores previsões são baseadas no princípio que “O futuro já chegou. Só não está igualmente distribuído ainda.”
O Negócio de Previsões
Meu pai costuma dizer: “Filho, é difícil fazer qualquer previsão, especialmente sobre o futuro”.
Para comprovar seu ponto, vamos listar algumas das piores previsões sobre tecnologia, o raciocínio por trás delas e o que de fato aconteceu. Todas foram realizadas por pessoas muito bem qualificadas para fazê-las.
Computação em Nuvem (2008)
“A indústria de computadores é a única indústria que é mais movida pela moda do que a moda feminina. Talvez eu seja um idiota, mas eu não faço ideia do que estão falando. O que é [nuvem]? É completo sem sentido. É insano.” – Larry Ellison na OracleWorld.
Larry Ellison
Quem fez? Larry Ellison, fundador da Oracle e um dos empreendedores mais bem sucedidos da história, dono de uma fortuna de US$170 bilhões.
Por que? A Oracle produzia software e sistemas de hardware, principalmente focados em banco e gestão de dados. Especificamente, ela era focada em software on-premisse, de forma que a Nuvem era uma direta ameaça.
O que aconteceu? Em 2009 o mercado o mercado de software era avaliado em cerca de US$350bi de dólares, dos quais apenas 6 bilhões eram atribuídos a serviços na Nuvem.
Em 2023, o valor total do mercado de software alcançou US$600bi, sendo que US$400bi vieram de serviços na Nuvem, representando um crescimento anual de 40% ao longo de 15 anos.
Após anos resistindo à nuvem, a Oracle se viu obrigada a entrar nesse mercado.
iPhone (2007)
“Não há chance de que o iPhone vá conquistar uma participação significativa no mercado. Nenhuma chance. É um item subsidiado de $500. Eles podem ganhar muito dinheiro. Mas se você realmente observar os 1,3 bilhões de telefones que são vendidos, eu prefiro ter nosso software em 60%, 70% ou 80% deles, do que ter 2% ou 3%, que é o que a Apple pode conseguir.” – Steve Ballmer, CEO da Microsoft na época
Funcionários da Microsoft fazendo um “funeral” para o iPhone, apostando no seu fracasso
Quem fez? Steve Ballmer foi um dos mais importantes executivos da história da Microsoft. Ele sucedeu Bill Gates como CEO da companhia, cargo que ocupou de 2000 até 2014. Sua fortuna é estimada em US$147 bilhões.
Por que? Ballmer não fez essa previsão porque considerava o iPhone um produto ruim. O raciocínio era que o celular era muito caro e, para que a massa de consumidores conseguisse comprá-lo, era necessário um novo modelo de negócios. O problema é que havia um novo modelo, mas Ballmer não conseguiu vê-lo até que fosse tarde demais.
A Apple conseguiu que as operadoras de celular subsidiassem uma parte do custo do iPhone. Adicionalmente, os consumidores compravam os celulares em prestações que eram incluídas na conta de telefone. Jobs foi um dos inventores da compra parcelada nos EUA. Dessa forma, o preço elevado foi diluído e o iPhone chegou às massas (nos Estados Unidos).
Na época do lançamento, Jobs estava muito focado nas relações com as operadoras. Em um momento do desenvolvimento do iPhone, a equipe que lidava com as negociações com as operadoras era tão grande quanto a equipe de desenvolvimento do software do telefone.
O que aconteceu? O iPhone é o produto para consumidor de maior sucesso de toda a história, com mais de 2 bilhões de unidade vendidas e mais de um trilhão de dólares em vendas.
Streaming de Música (2003)
“O modelo de assinatura para comprar música está falido. Acho que você poderia disponibilizar a Segunda Vinda [de Jesus Cristo] em um modelo de assinatura e ainda assim não seria bem-sucedido.” – Steve Jobs
Steve Jobs
Quem fez? Steve Jobs, fundador da Apple.
Por que? Jobs tinha duas premissas incorretas. A primeira era sua observação sobre os hábitos dos consumidores. Ele dizia que: “Os consumidores compraram discos de 45 rotações, depois compraram LPs, compraram fitas cassete, compraram cartuchos de 8 faixas, depois compraram CDs. Eles vão querer comprar downloads”.
A segunda era que não existia tecnologia capaz de oferecer streaming de música com a mesma qualidade que ter o download das músicas nos dispositivos. Por fim, o problema de coordenação em trazer grandes catálogos parecia ser algo impossível de ser resolvido.
O que aconteceu? Atualmente, a maioria da música é consumida via serviços de streaming. Globalmente e nos Estados Unidos, cerca de 65% e 84% da receita total da indústria musical vem das plataformas de streaming, respectivamente.
Apple (1997)
Em uma conferência de tecnologia em 1997, Michael Dell foi perguntado sobre o que ele faria se fosse o CEO da Apple. Sua resposta: “O que eu faria? Eu fecharia a companhia e devolveria o dinheiro aos acionistas.”
Michael Dell
Quem fez? Michael Dell é o fundador e CEO da Dell Technologies. A empresa foi inovadora com a ideia de vender computadores diretamente aos consumidores, eliminando intermediários e reduzindo custos. Atualmente, a Dell Technologies é uma das gigantes do mercado de PCs. Além disso, Michael Dell tornou-se um prolífico investidor através do seu Family Office, o MSD Capital.
Por que? Essa é uma crítica que tem uma previsão implícita, que seria o fracasso da Apple. Nos anos 90, a Apple estava enfrentando uma série de desafios. A empresa havia perdido uma grande parte de sua participação de mercado para PCs que rodavam o sistema operacional Windows, fabricados por várias empresas concorrentes. A Apple estava sofrendo com problemas de gestão e uma linha de produtos confusa, com prejuízos ano após ano. Dell via a Apple como uma empresa em declínio, com um modelo de negócios que ele considerava insustentável.
O que aconteceu? Michael Dell não conseguiu prever o turnaround liderado por Steve Jobs. A introdução do iPod em 2001, seguida pelo lançamento do iPhone em 2007 e do iPad em 2010, colocou a Apple na vanguarda da inovação tecnológica. Essas inovações não só salvaram a empresa, mas também a transformaram em uma das companhias mais valiosas e influentes do mundo.
No caso da Dell, a empresa passou a enfrentar concorrência intensa no seu mercado, realizou uma aquisição altamente alavancada que limitou sua capacidade de investimento e, por fim, enfrentou dificuldades na transição para a computação em nuvem.
Os números falam por si só:
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Em 1997, a Dell valia US$4 bilhões. Atualmente vale US$100 bilhões.
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Em 1997, a Apple valia US$2,3 bilhões. Atualmente vale US$3,2 trilhões.
Internet (1998)
“O crescimento da Internet vai desacelerar drasticamente, à medida que a falha na “Lei de Metcalfe” se torna aparente: a maioria das pessoas não tem nada a dizer umas às outras! Até 2005, ficará claro que o impacto da Internet na economia não foi maior do que o da máquina de fax.” – Paul Krugman, economista
Paul Krugman
Quem fez? Paul Krugman é um dos mais influentes economistas do mundo. Ele é professor da Universidade de Princeton, autor de diversos livros e colunista do The New York Times. Em 2008 ele ganhou o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas
Por que? A Lei de Metcalfe afirma que o valor de uma rede é proporcional ao quadrado do número de seus usuários. Em outras palavras, conforme a rede cresce, o número de possíveis conexões aumenta exponencialmente, aumentando significativamente seu valor e utilidade. Em resumo, Krugman não entendeu o poder do efeito de rede.
Internet (1995)
“Eu prevejo que a Internet… em breve se tornará espetacularmente uma supernova e em 1996 entrará em colapso catastrófico.” – Robert Metcalfe, inventor e cientista
Robert Metcalfe
Quem fez? Robert Metcalfe é um empreendedor e co-inventor da tecnologia Ethernet, que se tornou o padrão global para redes locais (LANs). Ele também é o criador da Lei de Metcalfe, que explica o Efeito de Rede.
Por que? Diferente de Krugman, Metcalfe deu uma série de explicações técnicas sobre por que acreditava no fracasso da Internet. Ele listou que (i) os links de dados da Internet ficariam sobrecarregados; (ii) O modelo de negócios proposto com tarifa fixa não geraria dinheiro suficiente para financiar o crescimento; (iii) Os investidores não estariam dispostos a suportar perdas a longo prazo; (iv) A Internet enfrentaria problemas significativos de segurança.
O que aconteceu? Ambas a previsões estavam completamente erradas. Não é exagero dizer que a Internet foi a invenção mais importante do mundo desde a bomba atômica. Atualmente mais de 5 bilhões de pessoas tem acesso a rede, que transformou quase todos os aspectos da nossa sociedade.
Celular (1992)
“A ideia de um comunicador pessoal sem fio em cada bolso é um sonho impossível impulsionado pela ganância.” – Andy Grove, CEO da Intel
Andy Grove
Quem fez? Andy Grove, um dos líderes mais influentes da história do Vale do Silício, foi CEO da Intel Corporation. Grove teve um papel crucial na transformação da empresa em um líder mundial na fabricação de microprocessadores, impulsionando a era do computador pessoal. Seu estilo de gestão, focado em disciplina e inovação, virou um exemplo no mundo da tecnologia.
Por que? Não há muito contexto específico sobre essa declaração. O que podemos entender é que a visão de Grove acabou direcionando a Intel a perder o crescimento do mercado de smartphones.
A empresa foi muito lenta para entrar nesse mercado e continuou a focar principalmente no mercado de PCs e servidores, onde já tinha uma posição dominante. Ela ficou atrás da competição e perdeu relevância. Empresas como Nvidia em IA e Arm em celulares tornaram-se companhias mais importantes.
Celular (1980)
No início dos anos 1980, a AT&T solicitou à McKinsey uma estimativa do mercado de telefones celulares até o ano 2000. A gigante da consultoria previu que seria um mercado “de nicho” com um tamanho de 900.000 assinantes. A recomendação foi que a AT&T não investisse em telefonia celular.
Quem fez? A McKinsey & Company é uma renomada empresa global de consultoria em gestão que ajuda organizações privadas, públicas e sociais a resolverem seus problemas mais complexos e a melhorarem seu desempenho.
Por que? A análise da Mckinsey foi ancorada na qualidade do produto na época. Os celulares eram muito pesados, as baterias acabavam rapidamente, a cobertura era irregular e o custo por minuto era muito alto. O que a empresa deixou de considerar foi que o desenvolvimento tecnológico continuaria de forma exponencial e a tecnologia iria não só melhorar, como baratear.
O que aconteceu? Atualmente existem cerca de 8.3 bilhões de celulares ativos no mundo, um número 9.222 vezes maior que a previsão da Mckinsey.
Aprendizados
Dwight D. Eisenhower foi o Comandante dos exércitos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial e também Presidente Americano. Ele tem uma famosa frase sobre planejamento:
“Na preparação para a batalha, sempre descobri que os planos são inúteis, mas o planejamento é indispensável.”
Dwight D. Eisenhower
Qualquer plano é baseado em previsões. Apesar de difícil, vejo várias pessoas que conseguem fazer previsões acertadas, a maioria delas dentro de suas áreas de expertise.
Seguem alguns aprendizados desta lista de previsões erradas e do que observo de pessoas que fazem previsões corretas:
1) Conflito de Interesses
A principal lição para mim é que executivos e investidores fazem previsões que se alinham com seus interesses. É por isso que temos que ter muito cuidado com entrevistas na mídia.
Por exemplo, você nunca vai ver um investidor de Venture Capital dizer “agora o momento é péssimo para investir em startups”, mas com certeza você já deve ter lido o oposto.
Existe uma citação de um autor americano, chamado Upton Sinclair, que é perfeita para definir essa dinâmica:
“É difícil fazer um homem entender algo, quando seu salário depende de ele não entender isso”.
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Larry Ellison criticou a nuvem, pois a Oracle dominava data centers locais.
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Steve Ballmer criticou o iPhone em parte porque a Microsoft queria entrar no mercado de celulares.
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Steve Jobs criticou o streaming de música, afinal o iTunes da Apple cobrava US$0,99 por música.
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Andy Grove criticou a computação móvel, pois a Intel dominava em PCs.
É muito difícil chegar à conclusão de que o mundo está mudando quando você está indo muito bem. É o Dilema do Inovador de Clayton Christensen.
2) Você vai errar e está tudo bem!
É impossível não errar no negócio de previsões. Aprender a fazer uma autocrítica sem jogar sua autoestima para o chão é essencial. Uma conclusão que podemos tirar da frase de Eisenhower é que previsões não são feitas para estarem certas, mas para te ajudar a aprender.
3) O Futuro Já Existe…
As melhores previsões que vejo seguem as seguintes características:
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Feitas por pessoas isentas de conflitos de interesses.
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Que são especialistas e genuinamente curiosas sobre um assunto.
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Tem como base o contínuo crescimento de algum fenômeno que já existe na realidade, mas em pequena escala.
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Seus formuladores internalizaram o conceito de crescimento exponencial.
Isso me lembra da frase do escritor de ficção científica William Gibson:
“O futuro já chegou. Só não está igualmente distribuído ainda.”
Vamos pegar o caso do computador pessoal. Steve Wozniak foi um membro ativo do Homebrew Computer Club, um grupo de entusiastas da computação que se reunia na área da Baía de São Francisco durante a década de 1970. O protótipo do Apple I foi inicialmente apresentado para esse grupo, que gostou tanto que incentivaram Jobs e Wozniak a fundar a Apple. A previsão era que o interesse por computadores poderia ser algo universal. Para isso, seria necessário um produto democrático e fácil de usar. Este produto seria possível pois eles viam os avanços tecnológico no Vale do Silício. O futuro do computador já existia na década de 70, mas estava restrito ao Homebrew Computer Club.
Convite para Steve Wozniak do Computer Club
Fontes
Para quem duvida que essas citações foram realmente feitas, segue a lista de referências:
Grande abraço
Edu
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