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🤗 Twitter: O Metaverso é uma hipótese sobre o futuro da Internet e só será possível com grandes avanços em diferentes frentes tecnológicas.

👍🏻 Nutella:

  • O Metaverso é uma rede de alta escala, interoperável, de ambientes 3D virtuais que podem ser experimentados de forma sincronizada, continuamente, por um número ilimitado de pessoas, com uma sensação de se estar presente. Isso inclui continuidade de dados, como identidade, histórias, ativos, objetos, comunicação e pagamentos.
  • Não é uma visão completa do futuro, mas sim uma hipótese de uma evolução da Internet.
  • Esta evolução só é possível com desenvolvimentos em 1) Hardware, 2) Rede, 3) Poder Computacional, 4) Plataformas Virtuais, 5) Interoperabilidade, 6) Pagamentos e 7) Conteúdo, Serviços e Ativos.
  • A tecnologia blockchain é fundamental para que o Metaverso atinja seu potencial.

👊🏻 RaizAlvo Dumbledore, Diretor de Hogwarts, diz no livro Harry Potter e as Relíquias da Morte uma das melhores sabedorias encontradas na literatura infanto-juvenil:

As palavras são, na minha não tão humilde opinião, nossa fonte inesgotável de magia. Capaz de infligir ferimentos e remediá-los”.

O mundo dos negócios adora uma nova palavra que traz em si a explicação para um fenômeno do presente ou futuro. Essas palavras causam fortes impactos no mundo, talvez menos pelo que profetizam, mas por autorrealização. A mais interessante pra mim é “BRICs”. Nos primeiros 15 anos do século XXI, bilhões foram investidos na tese das economias emergentes. Que Brasil, Rússia, Índia e China são países muito diferentes e nos anos seguintes ficaram ainda mais distantes entre si não importa. O termo pegou e gerou inúmeros seminários, fundos, reuniões, consultorias, notícias e debates, fazendo a economia rodar, mesmo que sem muito proposito além de dar segurança aos que estão lendo que estão “por dentro”.

Foi com esse ceticismo que comecei a pesquisar o Metaverso nos últimos meses, principalmente quando encontrei previsões que “até o final da década o Metaverso vai valer de US$6 a US$13 trilhões”. 🙄

O que é?

O termo surgiu no ótimo livro Snow Crash de Neal Stephenson, como uma junção das palavras “meta”, termo grego que significa “maior que” ou “que inclui todos”, e “universo”. No livro, o protagonista Hiro é um entregador de pizzas no mundo real, mas no Metaverso, um mundo virtual, ele é um príncipe samurai.

A definição que prefiro é do Matthew Ball, que literalmente escreveu um livro sobre o tema e como bom evangelista de uma buzzword, já construiu um negócio de consultoria/investimento/palestra sobre o tema. Em sua defesa, o livro é bem legal:

O Metaverso é uma rede de alta escala, interoperável, de mundos e ambientes 3D virtuais que podem ser experimentados de forma sincronizada, continuamente, por um número ilimitado de pessoas, com uma sensação de se estar presente. Isso inclui continuidade de dados, como identidade, histórias, ativos, objetos, comunicação e pagamentos. O Metaverso não é uma visão completa do futuro, mas sim uma hipótese de uma evolução da Internet. Esta evolução só é possível com desenvolvimentos em 1) Hardware, 2) Rede, 3) Poder Computacional, 4) Plataformas Virtuais, 5) Ferramentas de Interoperabilidade, 6) Pagamentos e 7) Conteúdo, Serviços e Ativos

Vamos por partes:

  • Alta-escala: que vai incluir trilhões de lugares, igual a Internet tem bilhões de sites.
  • Interoperável: se refere a habilidade para que sistemas independentes possam conversar e interagir de forma segura e coerentes. ex: as redes sociais são independentes umas das outras, mas não interoperáveis. Seu perfil em uma não serve para outra. A ideia é que isso mude, da mesma forma o e-mail é interoperável.
  • Virtuais: criado por computadores.
  • Sincronizada: sem ninguém com vídeo atrasado, diferente do que acontece às vezes com o Zoom.
  • Número ilimitado de pessoas: tem que caber todo mundo.
  • Continuidade de dados: isso é algo pouco hoje existente na internet. Lembra quando você jogava 007 GoldenEye, dava 20 tiros numa sala, saia e quando voltava a sala estava toda “consertada”? Isso quer dizer que o jogo não tinha continuidade. Essa é uma das coisas mais diferentes da Internet vs o mundo real.   

E o que o NÃO é:

  • Realidade Virtual ou Aumentada: sejam os equipamentos ou aplicativos.
  • A Meta: ou as suas diferentes iniciativas.
  • Indústria de gaming: apesar das suas empresas serem candidatas a protagonistas do Metaverso.
  • Substituto da vida real: nem coisa de distopia, mas sim algo complementar.

A que se propõe?

O Metaverso se propõe a ser uma melhor forma de interagirmos com a tecnologia da informação. Não evoluímos milhares de anos para ficarmos digitando em um teclado (que cansa as mãos) e vendo uma tela 2D (que cansa os olhos). Nosso cérebro pensa mais rápido do que escrevemos. Vemos mais que um monitor. Em resumo: existe espaço para fazer melhor. O que? Quase tudo.

10 anos atrás digitávamos no palm com uma canetinha plástica, até a Apple nos lembrar que nascemos com 10 canetinhas nas nossas mãos. Estou listando aqui um exemplo de hardware, mas pense que até hoje não temos pagamentos online de forma fluída. Lidar com tecnologia nunca foi tão bom quanto hoje, mas não é bom em termos absolutos.

Se a economia digital já tem o porte atual com todos estes problemas, à medida que a experiência melhore, ela deveria que crescer: mais interações sociais, mais comércio, mais criação de valor. A utilidade do Metaverso estará na sua capacidade de criar experiências de qualidade e significado.

Onde estamos hoje

Refletindo nesse artigo, eu percebi que já estamos num grande vídeo game online. Lembrando a definição do dicionário, que vídeo game é um “jogo realizado de forma eletrônica manipulando imagens produzidas por um programa de computador em uma tela”. Temos perfis em redes sociais. Se eu postar fotos que gerem muitos likes e engajamento, posso acumular recursos, apoio e oportunidades, traduzindo-os em ganho financeiro. Alguns dos melhores jogadores da atualidade são os influencers que saíram de regiões e posições sem acesso a oportunidades e criaram uma vida próspera online.

Na minha opinião, já vivemos em um tipo de Metaverso. A questão é que ele é muito distante da visão descrita acima. Não é interoperável, 3D, é cheio de problemas de sincronização, não possui continuidade…

Temos alguns casos que se aproximam mais da visão acima. Por exemplo, centenas de milhões de pessoas passam uma boa parte do seu tempo dentro de mundos virtuais como o Roblox, empresa listada que vale US$17 bi. Ela produz um jogo utilizado por crianças que se encontram para conversar e construir mundos virtuais, utilizado por mais de 58 milhões de pessoas todos os dias.

Do lado das companhias, existe muito movimento em torno do Metaverso, das empresas de tecnologia, de game, incluindo até a maior aquisição da história da tecnologia, a compra pela Microsoft da Activision Blizzard por US$ 68.7 bi. Imagine a inteligência em criar ambientes 3D da empresa que fez o Call of Duty utilizada para criar melhores reuniões e isso sendo colocado no pacote Office? Isso cheira dinheiro.🤑

Quando vai chegar?

Não será imediatamente: vamos pensar, quando que a Internet chegou de vez na sua vida? Foi No dia que instalaram na sua casa? Ou escritório? Com o Google? Youtube?

E o smartphone? Com 2G? Ou o Wireless Protocol Standard, que permitiu acessar uma versão básica dos websites? Com o Blackberry? Ou com o iPhone?

Posso ficar aqui dando exemplos, o fato é que não existe um momento exato em que uma tecnologia se torna dominante. De forma que não será de um momento para outro que teremos um Metaverso. Sendo assim, caso essa visão se torne realidade, será passo a passo e gradual.

Ainda é muito cedo: você pode acreditar ou não no Metaverso, mas a verdade é que é estamos ainda a décadas de todos os desenvolvimentos necessários. Além do que, é impossível entender como será um “dia no Metaverso” apenas usando os modelos mentais que temos hoje. Da mesma forma que no início da Internet ninguém conseguiria prever algo como o Facebook (se tivesse, teria feito).

Como será construído?

São sete frentes tecnológicas que deverão se desenvolver:

Hardware: de um lado precisamos de novos dispositivos, de realidade virtual e aumentada. Os de hoje deixam as pessoas enjoadas e ridículas. Além disso, temos que imaginar um mundo cheio de sensores, câmeras e projetores que permitem que fiquemos imersos no Metaverso sem segurar um objeto na nossa frente.

Rede: 1) Melhor Bandwidth; 2) Menor Latência; 3) Maior Confiabilidade. Precisamos conseguir transferir mais dados, com maior velocidade e confiança.

Poder Computacional: sabe por que sempre reclamamos que o computador é lento? O motivo é que ao aumentarmos a capacidade de processamento, em paralelo os desenvolvedores criam produtos que a utilizam ao máximo. Por exemplo, foi apenas na década de 2010 que conseguimos colocar milhões de aparelhos para processar um jogo com 100 jogadores diferentes em uma partida, de forma sincronizada e economicamente viável. Superada essa barreira a indústria de games criou vários jogos como Fortnite e Roblox. Hoje jogos nesse formato atraem c. 350-400 milhões de pessoas todos os dias.

Plataformas Virtuais: aqui estamos falando dos mundos 3D nas quais os consumidores vão interagir. Alguns destes são focados em lazer, outros para treinamento e trabalho. A melhor representação de plataformas que temos no presente, novamente, estão no mundos dos jogos.

Interoperabilidade: apesar da indústria de games ser o melhor exemplo de Metaverso, ela opera via arquitetura fechada. Basta lembrar que o CD do Playstation 2 não entrava no Nintendo 64. Sim, estou dando exemplos de 20 anos atrás (e entregando a minha idade), mas atualmente a filosofia ainda é a mesma. Cada um no seu quadrado. No caso da Internet, no inicio empresas como Microsoft, e AT&T tentaram controlar a experiencia do usuário por completo. Se tivessem tido sucesso, é capaz que no Internet Explorer não fosse possível abrir um site do Facebook. A razão da Internet ser aberta é que foi criada por instituições públicas, já o Metaverso será criado por empresas. A solução serão ferramentas que permitam que algo desenvolvido em uma plataforma possa conversar e operar com um jogo de outra.

Pagamentos: a economia de Metaverso precisa de serviço de pagamento que seja interoperavel a um custo baixo. Hoje, a Apple cobra 30% para qualquer compra digital na Apple store. Taxas como essa precisam cair e muito.

Conteúdo, Serviços e Ativos: grandes detentores de propriedade intelectual têm que participar do Metaverso. Marvel, Star Wars, NBA, Copa do Mundo dentre outros. Além disso, imagine que o Metaverso é um shopping, é preciso daquela avenida de serviços, lojas especificas, cinema e tudo mais que faz você querer ir no shopping.

Onde entra a blockchain?

Se pensarmos o Metaverso como uma evolução da Internet, tínhamos duas visões que existiam na época em que esta surgiu.

A primeira era fechada, em que a estrutura seria centralizada, com poucas (ou uma) empresa controlando a experiência. O equivalente disso no mundo real é a Disney World. É super legal ir nos parques, mas não morar dentro deles. Tudo lá é caro e se você sair da linha, é expulso (e não tem álcool). Todas as decisões de quem pode ir onde, para onde os dados vão, quais plataformas serão utilizadas, o que pode ou não fazer, é dito por uma entidade privada.

A segunda visão é de uma Internet aberta, que seria o equivalente a uma cidade. Isso quer dizer descentralizada, em que seus direitos são garantidos pelo código e padrões. A tecnologia é Open Source, qualquer pessoa pode acessar, quem é dono é a comunidade e as decisões são tomadas pelos usuários/cidadãos. É assim que a Internet opera até hoje, apesar de cada vez mais empresas como Google, Meta, Apple dentre outras limitarem o acesso de seus usuários. Ter acesso a direito de propriedade, “meus followers são meus, não do Instagram” e direito de identidade e proteção de dados também são necessários.

E qual a tecnologia que permite que o Metaverso atinja esta segunda visão? Blockchains. As bases de dados públicas geridas por mecanismos de consenso dão ao Metaverso a ferramenta para que a sua construção seja feita de forma colaborativa. Blockchains afetam rede, plataformas virtuais, interoperabilidade, pagamentos, conteúdo, serviços e ativos.

É preciso de um mundo de pessoas para se criar um novo universo e apenas dando a elas direito de propriedade e autodeterminação que elas contribuirão para este novo universo.

Impacto Potencial

Esse item por si só vale um artigo, mas consigo pensar em transformações no Trabalho, Educação, Saúde, Entretenimento, Bem Estar, dentre outras indústrias. Talvez não sejam trilhões, mas o impacto é possivelmente muito grande.

PS: Este artigo é o mais longo do bsb e me inspirou a escrever outros em 2023 dando sequencia a temas específicos, ex: “como investir no Metaverso”, “Epic Games”, etc.


Para terminar, queria desejar um Feliz Natal e um ótimo Ano Novo a todo mundo que acompanha e torce pelo bsb. Eu não teria feito isso sem vocês!

Retomamos os artigos na segunda semana de 2023.

Grande abraço, Edu

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