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🤗 Twitter: Blockchains são computadores divididos em quatro camadas, sendo as 1 e 2 o núcleo, ambas operando como plataformas multilaterais

👍🏻 Nutella:

  • Computadores operam de acordo com arquiteturas. A cliente-servidor é uma das mais tradicionais e ajudou a escalar a internet, mas possui problemas
  • A arquitetura dos computadores blockchain é descentralizada e dividida em quatro camadas: (0) Hardware & Rede, (1) Consenso e Liquidação, (2) Contratos inteligentes, (3) Carteiras & Interfaces
  • As camadas 1 e 2 são o núcleo do computador e operam como Plataformas Multilaterais
  • A Camada 1 possui cinco lados: 1) time fundador, 2) Investidores, 3) Validadores & Mineradores, 4) Programadores e 5) Clientes finais. A Camada 2 opera de forma semelhante

👊🏻 Raiz: 

Em artigos passados afirmei que blockchains são computadores. Digo isso no sentido que uma rede de participantes se junta e tendo um mecanismo de consenso como maestro, operam de uma forma que se parece muito com um computador, na visão de um programador.

Em blockchains podemos construir aplicações diferentes daquelas desenvolvidas em outras plataformas computacionais, como desktops e smartphones. Isso é bom, pois abre novas possibilidades.

Arquitetura Cliente-Servidor

Antes de entrarmos na arquitetura das blockchains, vale revisarmos a arquitetura computacional tradicional: cliente-servidor funciona como aplicação distribuída, ou seja, na rede existem os fornecedores de serviços a rede, que são chamados de servidores, e existem os requerentes dos recursos ou serviços, os clientes.

O cliente não compartilha nenhum de seus recursos com o servidor, mas, no entanto, ele solicita alguma função do servidor.

Arquitetura Blockchain

As blockchains operam via uma arquitetura descentralizada. Isso não é por acidente. Quando olhamos a arquitetura cliente-servidor, ela é muito boa e ajudou no crescimento exponencial da Internet. Os problemas listados acima quase que rimam uns com os outros e tem a ver com controle e centralização. As empresas que controlam os principais serviços (ex: Google, Facebook, Microsoft, Apple, Amazon) são incrivelmente poderosas.

As Quatro Camadas

A melhor forma de explicarmos a arquitetura blockchain é dividi-la em quatro camadas (em inglês, “layers”) e passar por cada uma sobre como elas criam e capturam valor econômico.

As Quatro Camadas dos Computadores Blockchain

  • Camada 0 / Hardware & Rede: para que qualquer coisa aconteça, precisamos de computadores físicos. Estes são chamados de mineradores ou validadores. Na camada zero também incluímos os protocolos computacionais que permite que os diversos computadores físicos se comuniquem uns com os outros e eventualmente concordar sobre o estado da rede.
  • Camada 1 / Consensos & Liquidação: todos os participantes da Camada 0 se comunicam via mecanismos de consenso, e precisam concordar sobre qual o estado do computador blockchain que eles estão mantendo. Esse estado por ser, por exemplo, quantos tokens cada carteira possui ou qual carteira é dona de qual NFT. Na Camada 1 também ocorre o processamento do estado da rede.
  • Camada 2: podemos pensar nesta camada como um substrato computacional para os programas que os programadores escrevem para a blockchain. Os contratos inteligentes são a pedra fundamental para qualquer aplicação criada na blockchain.
  • Camada 3: Interface de usuário. É basicamente o código que roda no seu smartphone ou desktop com a qual você interage com os aplicativos e contratos inteligentes. Corretoras crypto como Bitso e Coinbase também se encaixam nessa categoria.

As Camadas 0 e 1 somadas compõe um computador blockchain. A Camada 2 roda em cima. Pensa assim: as camadas Zero e Um seriam o seu computador Dell, HP, Apple. A Camada 2 é o Windows, Chrome e etc. A Camada 3 é o equivalente ao seu mouse ou teclado.

Agrupando as camadas

As Camadas 0 e 3 são a periferia da blockchain. Os modelos de negócios destas Camadas são bem parecidos com os de qualquer negócio tradicional, ou seja, maximizar receitas e diminuir custos. No entanto, estas Camadas ainda precisam interagir com o mundo blockchain, o que quer dizer que são esquisitas pra caramba (da melhor forma possível).

As Camadas 1 e 2 são o núcleo crypto, onde está o principal aprendizado. O modelo de negócios de ambas é bem parecido. Ambas são Plataformas Multilaterais.

As Plataformas multilaterais (MSP: Multi-sided Platform em inglês) são plataformas econômicas intermediárias entre dois (ou mais) grupos distintos que fornecem uns aos outros benefícios da conexão em rede. Uma plataforma multilateral permite que diferentes tipos de participantes numa rede consigam interagir entre si de forma direta. Em geral cobram taxas sobre transações que ocorrem na plataforma.

O conceito de plataforma é um dos lugares comuns do ecossistema de empresas e fundos de tecnologia. Não é sem motivo, são grandes negócios. No entanto, seu conceito existe desde o inicio da civilização. Por exemplo, uma feira é uma plataforma multilateral entre dois grupos diferentes: os feirantes, que querem vender seus produtos e os consumidores, que querem compra-los.

O grande apelo das plataformas multilaterais para ambos os lados é a economia de escala que traz para um lado ao acumular membros o suficiente do outro lado.

Feiras livres de Aracaju devem ser retomadas a partir de sábado

Temos diversos modelos de plataformas multilaterais dentre as principais empresas do mundo, como as redes de cartão de crédito, sistemas computacionais (Mac, Microsoft Windows) marketplaces, redes sociais, videogames, revistas, dentre outros.

O modelo de negócios das blockchains é o de uma plataforma multilateral, mas ao invés de apenas dois lados, temos cinco.

Camada 1 como uma Plataforma Multilateral

Tem um termo em inglês chamado flywheel que é difícil de traduzir. Basicamente é um ciclo em que diferentes componentes se apoiam e ao continuar rodando, vão ficando mais forte com o tempo. Vamos analisar o flywheel de uma camada 1:

Um time de fundadores tem a idéia de um novo protocolo Camada 1 (Layer 1). Este time capta recursos com investidores, de forma a financiar a construção do protocolo e a criação de um valor econômico inicial. Esse valor inicial cria um incentivo para que mineradores & validadores coloquem seu hardware a disposição para que a plataforma funcione de forma segura, dado que são remunerados por isso com parte desse valor econômico. Com o funcionamento desse protocolo, passa a ter incentivo para programadores construírem aplicações com esse protocolo. Estas aplicações criam valor para os usuários finais. Parte desse valor é capturado pelo protocolo e assim o ciclo se repete.

Quanto mais valor o protocolo possui, mais validadores passam a melhorar o seu funcionamento, o que atrai mais desenvolvedores, que criam mais valor aos usuários finais. O protocolo então funciona como uma plataforma multilateral com 5 lados:

  1. Time fundador
  2. Investidores
  3. Validadores & Mineradores
  4. Programadores
  5. Clientes finais

Devido as regras que o novo protocolo Camada 1 impõe, estes cinco lados podem interagir uns com os outros, mesmo sem se conhecerem. Este é o valor que ele traz.

Flywheel de um protocolo camada 1

O token do protocolo, que é aquilo que compramos nas corretoras, é o principal mecanismo de captura de valor. Ao deter o token, os investidores esperam que parte do valor criado será capturado pelo detentor do token, que funciona como o “acionista” dessa “empresa”.

Qual a barreira de entrada deste protocolo? Sempre que investimos em algo, seja tempo ou dinheiro, queremos saber se esse algo (seja uma amizade, casamento, trabalho, etc) é resiliente. No caso de atividades econômicas, estamos falando de barreira de entrada. Protocolos acumulam valor durante longos períodos de tempo devido ao efeito de rede (Network effect). Os cinco lados continuam operando com o protocolo pois existe uma grande quantidade de participantes nos diferentes lados da plataforma. Dado que o código é open source, qualquer um poderia criar um novo Ethereum, isso não ocorre pois o Ethereum tem efeito de rede.

Na tentativa de criar este efeito, as equipes fundadoras de protocolos camada 1 trabalham arduamente para trazer participantes:

  • Clientes são atraídos via subsídios no preço dos serviços e airdrops, em que a equipe fundadora do protocolo dá parte dos tokens aos seus primeiros usuários
  • Validadores são atraídos com altas taxas de retorno ao capital que empreguem na validação do protocolo
  • Programadores são atraídos via ferramentas, eventos e ultimamente uma forma de atingir este grupo são os chamados fundos de ecossistema, em que empreendedores e programadores recebem capital para desenvolver seus projetos em um protocolo especifico em detrimento de outro. Alguns exemplos são o Binance Ecosystem Fund, Oasis Ecosystem Fund e Flow Ecosystem Fund, este último de $725 milhões.
  • Investidores são atraídos na busca de altos retornos, via a criação de uma proposta sólida de negócios e a formação de um time altamente competente

O objetivo é que à medida que o protocolo cresce, estes mecanismos podem ser retirados, de forma a fazer o protocolo financeiramente sustentável. Nada muito diferente daquele esqueminha de frete grátis que os eCommerce oferecem.

Camada 2  

No caso das Camadas 2, acontece algo parecido. As Camadas 2 permite diferentes interações de diferentes grupos, operando como uma plataforma multilateral. Aqui vale a pena usarmos exemplos:

MakerDAO: Este é um dos principais projetos que rodam na Camada 1 Ethereum, focado em serviços financeiros de empréstimos e investimentos. A Maker possui cinco lados:

  • Provedores: grupo que coloca seu dinheiro no protocolo para ser emprestado
  • Tomadores: tomam o dinheiro dos provedores
  • Detentores da Stablecoin DAI: este grupo possui a stablecoin DAI no intuito de utiliza-la em algum momento, sendo um dos lados da plataforma
  • Guardiões da rede MakerDAO: garantem que o protocolo opera de acordo com as regras pré-estabelecidas e são pagos por isso
  • Detentores do Maker token: são os acionistas do protocolo, responsáveis por garantir sua governança e prover o capital inicial

Uniswap: outro projeto que roda na Camada 1 Ethereum, focado em compra e venda de tokens. A Uniswap possui quatro lados: (i) Vendedores, (ii) Compradores, (iii) Provedores de Liquidez e (iv) Detentores do Uniswap token

Tese de Investimentos

Se pudéssemos investir diretamente nos protocolos como TCP/IP ou HTML/CSS, este teria sido o melhor investimentos dos últimos 30 anos. Imagine que todos que usassem a internet tivéssem que uma assinatura mensal para utilizar estes protocolos. Com uma população global de 7.9Bi e 5.4Bi com acesso a rede, se cobrássemos uma assinatura de Netflix de $10/mês, teríamos uma receita de $650Bi por ano, com margens altas, dado que estes protocolos operam com baixíssimo custo. Esta seria de longe a maior empresa do mundo.

No entanto, não existia mecanismo econômico para que os criadores destes protocolos capturassem valor.

No caso dos protocolos, os tokens permitem que valor econômico seja capturado tanto pelos criadores do protocolo, como distribuído aos diferentes lados da plataforma.

Se o token da Camada 1 vai capturar a maior parte do valor, ou o da Camada 2, ou os serviços das camadas 0 e 3, é difícil saber com certeza. Hoje a teoria é que Camadas 1 e 2 serão os principais beneficiários.

PS: estou com uma meta de levar o bsb até 10.000 até o final do ano. Gostou desse artigo? Quer me ajudar? Então compartilhe e envie a seus amigos e colegas!

Grande abraço,

Edu