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Para o artigo de hoje, confesso que tive que refaze-lo e quase que não saiu. Tinha escrito toda uma analogia baseada num dos mais difundidos mitos contemporâneos relativos a uma palavra. Era sobre aquela inspiradora historinha de que o termo chinês weiji, que significa “crise”, é um ideograma formado pela junção de dois outros: o negativo “perigo” (wei) e o promissor “oportunidade, ocasião propícia” (ji). No entanto, meu lado analista financeiro, sempre ele para atrapalhar meu lado criativo, fez com que eu checasse a origem dessa história e descobrisse que ela não é verdade (Vide aqui e aqui). Também dou crédito a minha esposa (❤️) que fala Mandarim e ajudou a esclarecer esse erro. Mas enfim, deixemos de enrolação e vamos ao texto.
🤗 Twitter: para que a blockchain de um novo salto de adoção, uma série de desafios precisams ser resolvidos em eficiência, segurança, conexão com economia real, dentre outros
👍🏻 Nutella:
- Para que consiga um novo salto de adoção, a tecnologia blockchain precisa resolver uma série de problemas técnicos
- No lado de infraestrutura, é preciso melhorar a eficiência das redes e segurança das pontes entre blockchains
- Em DeFi, as exchanges descentralizadas precisam melhorar suas ofertas de produtos. Além disso, apenas ao se conectar com demandas da economia real que o setor verá crescimento exponencial
- NFTs ainda operam em uma tecnologia primitiva e precisam avançar muito, se integrando com o mundo real também e se conectando com os aplicativos de finanças descentralizadas. Isso levara a um crescimento da classe de ativos
- O Crypto Twitter é tóxico e difícil de navegar com sua agressividade
👊🏻 Raiz:
Existe uma sabedoria popular que diz que a “vida não é uma corrida de 100 metros, mas sim uma maratona”. Depois de consultar meu irmão, maratonista, para entender o que analogia queria dizer, eu discordo. Um maratonista busca velocidade constante durante toda a prova, de forma a conservar energia.
A minha experiência diz o contrário. A vida na verdade é uma série de corridas, seguida de períodos em que andamos. O mesmo vale para a economia e negócios. Empresas que crescem de forma consistente são tão raras que existem até fundos especializados em procurar e investir nas tais “compounders”.
No caso de tecnologia, a mesma lógica se aplica. A adoção tecnológica não ocorre de forma linear. Nem mesmo exponencial. Existem momentos em que uma nova disrupção aparece e no segundo seguinte o mundo passa a conseguir operar num outro patamar. O desenvolvimento tecnológico opera na verdade como uma “Step function”.
Uma inovação cria uma onda de adoção. Esta inovação cresce até que seu impacto chega a um platô. Novas inovações então vêm e permitem mais adoções, em uma onda de inovação que se repete.
Dado que o bsb é uma newsletter sobre blockchains, vamos olhar esta nova plataforma computacional por esta lógica. Se listarmos os surtos de crescimento recentes no setor, estes foram em torno de (i) Finanças Descentralizadas (DeFi), tanto que 2020 teve o chamado “DeFi Summer” e (ii) NFTs, sendo 2021 chamado “O ano do NFT”.
Blockchain é o setor mais dinâmico do mundo hoje. Preciso trazer mais dados para confirmar esta afirmação, mas se tenho alguma credibilidade com você leitor, peço que confie em mim. A velocidade com que as coisas acontecem é tamanha que muitos fundos hoje não podem se dar ao luxo de ter apenas um analista que cobre “crypto”. Se querem estar atualizados, precisam de uma pessoa cobrindo cada um das principais áreas: DeFi, NFTs, Gaming, DAOS, Infraestrutura, etc.
No entanto, se analisarmos os últimos 6 meses, parece que estamos num momento de descanso entre as corridas. Existem uma série de desafios e problemas na tecnologia blockchain e suas aplicações que precisamos resolver para que consigamos dar o próximo passo. Sendo assim, como todo problema também pode ser uma oportunidade (assim diz a historinha chinesa que no fundo era uma mentira), vamos analisar alguns dos principais problemas da atualidade:
Eficiência
Por qualquer métrica que se analise, transações em blockchains são mais caras e demoradas quando comparadas com as realizadas em entidades centralizadas. Fazer um pagamento via Mastercard é melhor do que via Ethereum atualmente. Fato. Ethereum demora mais e tem um custo desconhecido, pois depende da hora do dia e custo do gás.
A indústria como um todo vem procurando formas de fazer com que as transações de contratos inteligentes sejam mais rápidas e baratas. A transição do Ethereum de Proof-of-work para Proof-of-stake deve levar a uma melhoria significativa na questão de consumo de energia e os diversos projetos criados em cima do Ethereum para diminuir os custos de transação, as chamadas layer 2, também devem ajudar. No entanto temos um risco no médio prazo, que é a possível adoção massiva de usuários de blockchains que por serem centralizadas, são mais rápidas. Esses modelos centralizados acabam por não aproveitar o principal valor das blockchains, que é a própria descentralização.
Como investir nesse problema? Atualmente Ethereum e Solana parecem ser as duas soluções mais promissoras. No entanto novas opções podem aparecer, mesmo que tenham vidas curtas. Como um professor de Stanford uma vez me disse “muita gente ficou muito rica com Yahoo e AOL, mesmo elas não sendo as vencedoras. O importante foi saber quando entrar e quando sair”
Insegurança
Hoje 9 em cada 10 noticias sobre noticias sobre hackers e fraudes em blockchains estão ligadas às operações entre blockchains, as chamadas “pontes entre redes” (“cross-chains bridges)”. Estas permitem que informações sejam trocadas entre diferentes redes e são fundamentais para a adoção em massa. Veja, a rede do Bitcoin e do Ethereum são dois registros completamente separados um do outro. A utilização destas pontes permite que elas troquem informações, coko por exemplo com uma pessoa comprando Bitcoin e recebendo Ethereum em troca, sem usar uma corretora como intermediária.
O crescimento das pontes tem sido exponencial e a visão de uma “Internet de valores” precisa que as diferentes redes conversem entre si sem risco.
Um setor que olha muito para si mesmo
A maioria das aplicações em Crypto/Web3 são focadas em Crypto/Web3. O token, em muitos casos, é o próprio produto. Especulação é o objetivo. Isso traz “adoção”, afinal quem não gosta de apostar? Mas ela dura pouco e vai a zero tão logo venha uma correção de mercado.
A adoção saudável virá quando as soluções Web3 sejam utilizadas para apoiar outras industrias, como meios de pagamento, utility tokens e NFTs.
Precisamos do casamento de Web3 com a Economia Real. Agora ainda estamos procurando experimentos híbridos, a partir deles veremos a melhor forma de seguir. Eu pessoalmente vejo muitos usos em temas como pagamentos cross-border, marketing, varejo, registro de imóveis, transporte, saúde dentre outros. A dica que dou aos empreendedores é: procure setores que estejam crescendo, pois isso sempre ajuda na adoção devido a demanda crescente.
O Principal uso das Finanças Descentralizadas tem muitos problemas
A primeira aplicação de DeFi são as Exchanges Descentralizadas (DEXes). São aplicativos na blockchain que funcionam como bolsas de crypto, fazendo a ponte entre compradores e vendedores, na maioria dos casos utilizando um intermediário chamado de “Liquidity Pool”.
DEXes são fundamentais para que uma internet de valores escale. No entanto, a maioria das DEXes são versões 1.0 que sofrem uma série de problemas, com uma experiencia de usuário que é uma m****. Os problemas são diversos: perda permanente de capital, spread alto, velocidade, controle, falta de ferramentas e etc.
Existe uma oportunidade de investimento em projetos que unam as melhores práticas do mercado financeiro tradicional com modelos de negócio de DEXes que resolvem a escalabilidade e experiencia do usuário.
Qual o impacto de DeFi na Economia Real?
A demanda por crédito nas blockchains é basicamente para especulação. Isso precisa mudar se DeFi quer atrair mais liquidez, usuários e começar a tomar market share dos bancos (digitais e tradicionais).
Para isso, é preciso integrar garantias do mundo real na blockchain. Esse não é um problema fácil de resolver. Para dar uma referência, é difícil usar um NFT (que esta na propria blockchain) como garantia de empréstimo, imagina então integrar ativos reais.
Onde vejo oportunidades nesse setor são em empresas que já possuem distribuição, usuários e histórico de crédito no mundo real e estão testando soluções na blockchain. O melhor exemplo atualmente está no Brasil, com a Cloudwalk
NFTs e Defi não se conversam
É incrível o quão pouco integrado as aplicações de DeFi e NFT são integradas. Como mencionei acima, você pode ter uma fortuna em NFTs e não conseguir um empréstimo em DeFi…
Isso precisa ser resolvido rapidamente, pois pode trazer uma força enorme para o ecossistema. Por que ainda não aconteceu? Várias razões, mas na minha visão, os NFTs precisam de mais usos e crescer em valor de mercado para que consigam chamar a atenção dos aplicativos de DeFi. NFTs também precisam de um valor de mercado mais estável, mesmo que isso seja apenas em relação aos crypto ativos.
NFTs ainda estão no começo…
A tecnologia NFT ainda é bem primitiva. Hoje não conseguimos nem conseguir apontar no código do NFT para uma imagem jpeg, pois a imagem ela está fora da blockchain. Isso é ainda pior no caso de NFTs que representam ativos do mundo real, como uma escritura de um ativo imobiliário.
Alguns especialistas acreditam que toda a tecnologia NFT precisa ser reescrita. Ao resolvermos estes desafios, milhares de aplicações de NFTs serão possíveis. A verdade é que hoje NFTs servem principalmente para colecionáveis digitais apenas. Um nicho pequeno…
O uso de NFTs para acesso a eventos, benefícios, dentre outros ainda é rudimentar. Temos muito a fazer. Verdade seja dita, muitos produtos da Web2 são muito superiores as soluções via NFT. Precisamos de:
(i) melhores integrações entre NFTs e outras partes do ecossistema blockchain para criarmos sinergias.
(ii) uma infraestrutura mais amigável e melhor experiência do usuário
O Crypto Twitter é tóxico
A plataforma de comunicação da comunidade blockchain é o Twitter. Existe uma certa ironia nisso, dado que se trata de uma empresa centralizada, mas é difícil combater o efeito de rede uma vez que esta estabelecido.
Começar uma conversa sobre Crypto no Twitter é esperar para encontrar alguém radical, sobre qualquer tema que seja, e o bullying, encheção de saco e/ou desrespeito comecem. A solução não é censura, mas aprendermos a ter mais “pele grossa” contra criticas, pelo menos foi isso que minha mãe me ensinou quando sofria bullying na escola, mas precisamos admitir que a conversa no Twitter sobre crypto não é acessível, intimida quem não sabe operar nesse ambiente e faz um desserviço para a adoção da tecnologia.
Problemas são oportunidades. Navegar na internet era uma zona até aparecer o Google e colocar ordem. Encontrar seus amigos na rede era impossível até o Facebook. Comprar musica de forma legal algo cheio de fricção até o Spotify. Empresas, Redes e Projetos vão criar muito valor solucionando os problemas das blockchains.
PS: estou com uma meta de levar o bsb até 10.000 até o final do ano. Gostou desse artigo? Quer me ajudar? Então compartilhe e envie a seus amigos e colegas!
Grande abraço,
Edu
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