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Hoje vamos falar do melhor fundo de investimentos em tecnologia do mundo, a lendária Sequoia Capital. Muitos conhecem sua reputação, mas poucos a sua história, cultura e forma de operar.
Se você tem apenas um minuto, aqui é o que você precisa saber:
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A Sequoia foi um dos primeiros fundos de VC e em seus primeiros ciclos teve lições importantes que carrega até hoje
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Sua cultura é objetiva, focada em vencer, agressiva, intensa, mas humilde
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A Sequoia é uma das poucas empresas de investimento no mundo, que conseguiu fazer uma sucessão sem perder em qualidade e na verdade ficar ainda melhor do que era
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Também é uma das poucas que conseguiu expandir geograficamente e por estratégia de forma bem sucedida
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Cultura + Track-record + Conhecimento acumulado + Transição + Foco compõem suas principais forças
Não é exagero afirmar que a Sequoia Capital é a gestora de venture capital de maior sucesso do mundo. As empresas do seu portfólio americano compõem cerca de 30% do valor total de mercado da Nasdaq, cerca de US$5.4 trilhões. Ela foi investidora em empresas como Apple, Google, PayPal, Linkedin, Whatsapp, Cisco, Oracle, Airbnb, Nvidia, Doordash, Zoom, Stripe dentre outras. Seu sucesso também é global, tendo investido na Bytedance, Pinduoduo e MeituanDianping na China. Na América Latina seu primeiro investimento foi certeiro, a empresa de tecnologia mais bem sucedida dos últimos dez anos, NuBank, fundada por um ex-sócio da própria gestora. Scott Malpass, CIO do Endowment de Notre Dame, um dos mais bem sucedidos do mundo afirmou: “dos mais de 200 gestores em que investi desde 1989, a Sequoia é de longe o número 1”.
Com 49 anos de existência, e uma cultura competitiva focada em performance, os sócios da Sequoia continuam trabalhando para se manter na vanguarda dos investimentos em tecnologia.
Fundação
Don Valentine foi o fundador da Sequoia Capital em 1972. Conhecido por seu estilo duro, competitivo e direto ao ponto, trabalhou durante 10 anos na indústria de Semicondutores, a maior parte deste tempo na área comercial da Fairchild.
A demanda dos clientes pelos semicondutores da Fairchild era tão grande que a empresa começou a filtrar e ranquear quais mercados deveria atender, baseado no tamanho e potencial de lucros. Valentine liderou essa iniciativa, pedra fundamental do futuro modelo de análise da Sequoia.
Em paralelo com seu trabalho, ele começou a fazer alguns investimentos pequenos do próprio bolso. Sua atuação dupla chamou a atenção de um gestor do Capital Group, uma das maiores empresas de investimentos do mundo, que deu a ideia de fazer um fundo focado em empresas de semicondutores privadas. Em 1972 ele deixou seu trabalho como executivo e criou o Capital Management Services, lançou um fundo de US$3 milhões. Ele queria montar uma empresa independente, então depois de alguns meses mudou o nome para Sequoia Capital. Diferente de seus colegas de venture capital que davam seus próprios nomes para as empresas, Valentine não queria chamar atenção para si. O que ele queria era construir a árvore mais alta do mundo de investimentos, uma Sequoia.
Inicialmente ele não via este fundo como o início de uma longeva empresa. Era algo para aproveitar a sua perspectiva privilegiada dado que sabia como o futuro próximo seria, um em que semicondutores afetariam as principais atividades econômicas.
Ele desenvolveu uma lista de critérios para investir. O primeiro e mais importante era mercado: tamanho, dinâmica, natureza da competição. Se o objetivo era construir grandes empresas, isso só era possível indo atrás de grandes mercados. Em paralelo com tamanho, queria entender o momento. Mercados em transformação criam oportunidades.
Depois de mercado vinha a ideia que os empreendedores tinham, que problemas estavam se propondo a resolver.
Don Valentine no primeiro escritório da Sequoia
O primeiro investimento foi na Atari Games, vendida alguns anos depois. Desse primeiro fundo o investimento mais famoso foi na Apple Computers, em que a Sequoia investiu US$150mil por 5% da empresa. Quando esta fez o IPO, a Sequoia foi pressionada por alguns de seus investidores a vender a posição, dado que alguns deles precisavam pagar impostos. O retorno foi de c.60x o capital investido em dois anos, excelente por qualquer métrica…exceto a do longo prazo…hoje 5% da Apple vale US$130Bi.
As experiências do primeiro fundo moldaram o seu modo de investir. No caso da Apple, ele aprendeu que precisava de investidores que não o forçassem a vender por motivo de imposto, o que fez a Sequoia convergir para uma base de investidores composta por instituições sem fins lucrativos como Universidades e Fundações. Também aprendeu que é preciso segurar as melhores empresas pelo máximo de tempo possível, pois elas continuam melhorando.
Qualquer empresa tem no seu fundador uma base para seus valores. No caso da Sequoia não é diferente. Um elemento que até hoje é muito presente é o do uso do método socrático de questionamento. Valentine acredita que um VC que consegue perguntar bem tem uma vantagem sobre o resto. Ele era famoso por exigir que qualquer pergunta tivesse até 20 palavras e se alguém da Sequoia falasse por >90 segundos sem parar, era um exagero.
Foram múltiplas lições, mas duas adicionais foram fundamentais:
Saber lidar com fundadores difíceis: Valentine desenvolveu uma fama em saber lidar com personalidades fortes, seja Steve Jobs ao fundador da Atari,
Estratégia de Porta Aviões: com o investimento na Apple e o nascimento do computador pessoal, Valentine viu o nascimento de uma nova plataforma computacional. Ele liderou vários investimentos que se beneficiavam dessa plataforma, como na SanDisk, de disquetes. Esse modelo mental se provou muito útil para a Sequoia durante o crescimento de mobile.
Segunda Geração
À medida que a Sequoia foi acumulando sucesso, Valentine começou a montar uma equipe e trazer novos sócios. Em 1986 Michael Moritz, um imigrante de Gales, jornalista que cobria tecnologia e havia escrito um livro sobre a Apple se juntou a empresa. Estrategista de poucas palavras, descrito por colegas como alguém que “pensa 14 passos a frente dos outros”, rapidamente se mostrou um grande investidor. Em 1988 Doug Leone, imigrante italiano, conhecido pelo estilo durão e agressivo e pela ética de trabalho, que havia feito carreira na área comercial de empresas de tecnologia, também se juntou Sequoia. Não foram os dois únicos, mas sim os que mais se destacaram dentro da sociedade.
Em 1996 Don Valentine chamou Moritz e Leone ao seu escritório e “entregou as chaves” da Sequoia para eles. Daquele momento em diante, os dois fariam a gestão do dia a dia, incluindo decidir a participação de Valentine nos lucros e seu escopo de trabalho. Ele apenas deu aos dois uma lista das coisas que toparia continuar fazendo e as que não tinha mais paciência.
Essa troca de comando consolidou um outro aspecto cultural da Sequoia: a empresa é daqueles que trabalham nela. Diferente de gestoras que possuem acionistas externos, incluindo até algumas que são listadas, a Sequoia seria uma sociedade em que participam dos seus ganhos os sócios executivos. Valentine poderia ter passado sua participação aos filhos, mas ele sabia que isso iria desmontar a Sequoia, dado que seus sócios poderiam montar outros fundos ou se desmotivar.
Douge Leone à esquerda e Michael Moritz no centro
A melhor performance nos piores anos
A Sequoia continuava desfrutando enorme sucesso com Leone e Moritz na liderança. No final dos anos 90 eles tinham investido em empresas como Yahoo. Quando a bolha da Internet estourou, eles se viram com fundos que desvalorizaram 90%. De uma hora para outra os sócios estavam até mesmo devendo dinheiro aos seus clientes, pois haviam retirado lucros assumindo que os fundos continuariam indo bem. A Sequoia, que até aquele momento nunca havia perdido dinheiro de seus clientes estava diante da maior crise da sua história, com fundos que para cada US$1 que havia sido captado tinham saldo de apenas US$0,3 centavos.
Em uma entrevista recente Leone conta que este foi o período que tem mais orgulho da Sequoia. Os sócios arregaçaram as mangas e começaram a ajudar as empresas do portfólio, realizaram algumas vendas e reinvestiram os lucros em novas companhias. No fim os fundos retornaram 2x o capital inicial, muito abaixo do objetivo, mas não perderam dinheiro.
Expansão
Passada a bolha da Internet, começou um dos melhores períodos da história da gestora. Nos Estados Unidos investiu no Google, PayPal, Youtube, Zappos, Palo Alto Networks, Linkedin dentre outras.
A sociedade também expandiu, com a entrada de novos sócios como Roelof Botha (imigrante Sul Africano), Alfred Lin (imigrante de Hong Kong) e Jim Goetz. Este último liderou o famoso investimento de US$60m no Whatsapp que retornou US$3Bi depois de dois anos.
Em 2012 Michael Moritz anuncia que devido a um problema de saúde, iria diminuir sua dedicação a empresa, mas ainda se manteria ativo. Doug Leone passa a ser o único sócio sênior da Sequoia, uma posição chamada de “Senior Steward”.
A Sequoia conseguiu aproveitar muito bem as plataformas de mobile (ex: Whatsapp) e de nuvem (ex: Snowflake). Ambas plataformas fizeram com que o custo de começar uma nova empresa ficasse mais barato que nunca, no entanto haviam duas outras tendências macroeconômicas que estavam mudando o mundo de investimento em tecnologia:
1) Globalização: empresas de tecnologia poderiam ser criadas em qualquer lugar
2) Juros baixos: se começar uma empresa ficou barato, a entrada de mais capital no ecossistema empreendedor levou a uma inflação de custos de pessoas, marketing dentre outras.
O conceito de fundos focados apenas no Vale do Silício no estágio Semente e Venture estava ameaçado por estas duas tendências. A Sequoia viu então que era hora de “Crescer ou Morrer”.
Leone e Moritz mapearam os mercados globais. Quase todos os fundos do Vale do Silício falharam em expandir globalmente, mas a Sequoia deu certo. Por que? Nas palavras de Leone, foi a flexibilidade dos sócios em criar uma estrutura descentralizada, em que cada região teria seu sócio-gestor e time. A maior parte dos lucros fica com o time local, enquanto uma parte é direcionada para a Sequoia Global. A colaboração entre as regiões é estimulada. Toda a Sequoia, incluindo o time dos Estados Unidos, passou a ser organizada assim.
O mercado chinês era chave. Moritz e Leone conheceram Neil Shen, empreendedor que havia fundado a C-Trip, uma empresa de turismo e que estava lançando seu fundo próprio. Em um dia eles o convenceram a ser sócio da Sequoia e montar o fundo chinês. Durante o final de semana fecharam os contratos necessários. A Sequoia China é hoje um dos principais fundos de VC do pais, investindo de uma forma muito diferente do time nos Estados Unidos, adotando uma estratégia mais flexível tanto em tamanho de empresa, quanto setor. A Sequoia também expandiu para Europa, Índia e Israel. A tentativa de expandir pro Brasil não deu certo, mas David Velez, o sócio que liderava a área, decidiu empreender e a Sequoia foi sua primeira investidora, no que viria a ser o NuBank. Digamos que na América Latina as coisas também deram certo.
David Velez e Doug Leone
Isso resolveu a questão da globalização. Quanto aos juros baixos, a solução foi verticalizar. O fundo de Venture seria o produto estratégico, mas ela precisava entrar nas áreas de Growth, Public Equities e até mesmo Wealth Management, criando assim formas de continuar investindo capital e sendo o “investidor de referência” de suas companhias. De uma gestora que captava fundos de US$200m, a Sequoia passou a captar >US$5Bi em seus diferentes fundos por ciclo de investimento. A Sequoia hoje é uma empresa que investe da ideia ao IPO e adiante.
Diferenciais
Esta é de longe a sessão mais importante do texto. O que faz a Sequoia diferente? Existe, milhares de fundos de Venture Capital, mas apenas uma Sequoia. A explicação abaixo é a minha, tenho certeza que existem outras:
1) Cultura de Vitória: alguns chamam de desejo de vencer, agressividade, foco em performance, que seja. Vocês sabem o que eu quero dizer. Os sócios da Sequoia são obcecados em ganhar. É parte do dia a dia da empresa. Sendo o fundo #1, eles sabem, que precisam continuar inovando para continuar na frente. É uma cultura de imigrantes, que tem medo de perder o que conquistaram.
Por exemplo, quando a YCombinator começou a ganhar porte, a Sequoia foi o primeiro fundo que decidiu investir na YC, conseguindo acesso privilegiado as companhias. Esse movimento permitiu o investimento de US$558 mil no Airbnb, que hoje está avaliado em US$6.7bilhões, o melhor investimento da história da gestora.
Eu tive a chance de almoçar com o Doug Leone enquanto estava em Stanford. Ele resumiu da seguinte forma: “Todo dia você precisa trazer tudo de si. Fica fácil perceber quem não está dando, pois é a exceção. Não somos uma família, somos um time que se ajuda, mas todo mundo tem que dar o melhor de si com garra, ou sai”. Na minha pesquisa ouvi vários relatos de como os sócios são obcecados em ajudar os empreendedores, as vezes focando nos mínimos detalhes se acreditam que podem influenciar na vitória. O Sequoia Ethos explica bem. É uma cultura que apesar de tudo acima, preza pelo trabalho em equipe e humildade, razões fundamentais pelas quais consegue se reciclar.
2) Conhecimento acumulado: todo mundo sabe o que o Warren Buffet faz, mas poucos conseguem replicar. Por que? Porque uma coisa é saber intelectualmente, outra é ver algo dando certo múltiplas vezes. É assim que se ganha convicção. A Sequoia tem quase 50 anos de conhecimento acumulado de como fazer Venture Capital. Sabe como identificar empreendedores até quando distribuir ações depois do IPO. Poucas empresas possuem esse conhecimento institucional.
3) Transição: de que adianta entrar numa empresa de serviços em que você sabe que o dono vai colocar o filho para liderar? Que tipo de motivação você tem? Na Sequoia, o processo de sucessão e estrutura horizontal permite longevidade aos sócios. Ao perguntar para um amigo que é socio da Sequoia o que ele queria fazer daqui a 20 anos, ele me disse: “O mesmo que faço hoje”. Doug Leone aposentou no final do ano passado e a empresa continua rodando com a mesma intensidade.
4) Track-record: num negócio em que o nome do investidor pesa, não existe “marca” melhor que a Sequoia. Isso serve tanto para empreendedores, quanto clientes. Sua fiel base de investidores é uma das suas vantagens competitivas. Em 2021 a Sequoia decidiu reorganizar a estrutura dos seus fundos para uma estrutura de capital permanente, no chamado “O Fundo Sequoia”.
5) Foco: quando uma empresa do portfolio vai mal, a Sequoia deixa de financia-la e dedicar atenção. São conversas difíceis, que os sócios tentam fazer da melhor forma possível, mas concentrar capital nos vencedores é melhor que tentar salvar os perdedores. A sua construção de portfólio é darwinista, mas um fator importante do seu sucesso. É difícil estar no outro lado dessas conversas, mas é parte da cultura agressiva de “não faça prisioneiros” que a gestora opera.
A Sequoia continua ditando os rumos do VC no mundo. Alguns tentam desafia-la, mais notoriamente a a16z, que cobriremos no futuro.
Escritório da Sequoia em Sand Hill Road
Grande abraço, Edu
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