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Bom, vou tentar trazer uma alternância entre textos mais teóricos e práticos, de forma a manter a leitura dinâmica e o aprendizado contínuo. Sendo assim, segue o segundo artigo, espero que gostem.
Muito obrigado!
Edu
Como investir em Blockchains
Resumo: apesar de ser tratado de forma homogênea pela maioria dos investidores, o ecossistema blockchain é extremamente heterogêneo, os protocolos têm modelos e objetivos completamente diferentes. Aqui fazemos uma descrição sobre os principais tipos de investimento em crypto, iniciando pela compra de protocolos no mercado aberto até o investimento em empresas detentoras dos direitos dos tokens a serem desenvolvidos pela equipe fundadora.
O universo de crypto ativos é diverso. Enquanto existem protocolos como o Bitcoin que se propõe a ser um ouro digital / reserva de valor (e veja não estou dizendo aqui que concordo 100% com isso), temos o Ethereum que considero mais como um investimento na infraestrutura da Internet (teremos um artigo apenas sobre isso). Stablecoins buscam replicar o valor de uma moeda tradicional. Protocolos de DeFi e NFT funcionam de forma semelhante a empresas de serviços e assim por diante.
Alguns protocolos permitem a construção de modelos de valuation tradicionais, usando fluxo de caixa descontado e múltiplos. Outros se comportam como commodities, sem fluxo de caixa e cujo valor depende de oferta e demanda (o que não quer dizer que não tenham valor) e por fim aqueles que buscam se comportar como dinheiro.
A implicação disso é que esta classe na verdade é um conjunto de ativos com objetivos, funções e propriedades diferentes. No entanto, existem motivos pelos quais esse mercado, hoje com mais de 2 trilhões de dólares de valor ainda seja visto de forma homogênea:
(i) Alta correlação: entre os diferentes ativos, o que se dá tanto pela base “acionária” concentrada como pelo fato do Bitcoin ser o principal provedor de liquidez.
(ii) Pré-institucionalização: estamos falando de uma tecnologia que existe há menos de 15 anos, com pouco histórico e ainda baixa adoção institucional.
(iii) Desconhecimento: muitos investidores simplesmente não conhecem os protocolos a fundo.
Como tratar crypto na construção de portfólio será abordado em artigo futuro, por hoje, vamos listar as diferentes formas em que investidores podem ter acesso a essa tecnologia:
- Mercado Aberto: modelo mais conhecido. Investidores compram tokens listados através de exchanges centralizadas (ex: Bitso, FTX), descentralizadas (ex: Uniswap) e empresas que operam no mercado de balcão (ex: GSR). Quando os criadores de um protocolo acreditam que este já possui alguma escala e vai chamar a atenção de investidores, busca-se listá-lo de forma a se obter o maior nível de liquidez. Isso normalmente quer dizer iniciar em apenas uma ou duas exchanges e com o tempo listar em outras. Ex: Investidor pessoa física na Bitso comprando um Bitcoin. O equivalente no mundo de empresas é a compra de ações de empresas listadas no mercado secundário.
- PIPT: essa sigla em inglês quer dizer “Private Investment in Public Tokens”. Neste modelo, investidores, quase sempre profissionais, negociam a compra de tokens diretamente da fundação que controla o protocolo (tema de outro artigo em breve) ou do time de desenvolvedores fundadores de um protocolo. Estas transações normalmente possuem descontos versus o “preço de tela” e vem com lock-ups. Já vi descontos de 5 até 70% e lock-ups de 6 a 36 meses. Em muitos casos, os fundos passam a ajudar na gestão do protocolo, seja no desenho dos tokens, programas de incentivo ou governança. Quase sempre estas transações são primárias, injetando capital na tesouraria do protocolo. Um exemplo de transação nesse formato foi o investimento da a16z na Solana no ano passado, O equivalente aqui seriam investimentos PIPE (Private Investment in Public Equity). Uma boa diferença neste caso é a possibilidade do investidor fazer o hedge de parte de sua posição. Entrar em um protocolo com desconto, seguido de hedge, tem sido uma estratégia comum de muitos investidores sofisticados.
- Venda Privada de Tokens e Early-stage Equity de Protocolos: este é hoje considerado o estágio mais interessante (e competitivo) de investimentos em blockchain. Investir em um protocolo de um time de alta qualidade, resolvendo um problema interessante, com um grande mercado potencial e em um estágio inicial é uma combinação de alto risco, mas também alto potencial de retorno. Times de desenvolvedores captam recursos junto usando duas estruturas:
(i) Investidores compram um SAFT (Simple Agreement for Future Tokens) que é a versão em tokens do SAFE (Simple Agreement for Future Equity), este último popularizado pela YCombinator. O SAFE permite a investidores colocarem dinheiro em uma empresa em troca de conversão em ações desta mesma empresa no futuro, com termos definidos. O SAFT funciona de forma semelhante, mas os investidores ganham tokens ao invés de ações, também com preço pré-definido. Desenvolvedores usam os recursos da venda do SAFT para desenvolver a tecnologia necessária para criar um token funcional e depois entregam estes tokens aos investidores, que esperam que exista um mercado secundário através dos quais podem vender e obter o retorno do investimento.
(ii) Investidores compram um SAFE ou investem em ações de uma companhia privada, detentora dos direitos aos futuros tokens que o time empregado está desenvolvendo. Em certo momento, os investidores podem converter suas ações em tokens. A ideia é que a maior parte do valor da empresa seja devido aos tokens que possui em seu balanço. Aqui pode existir uma conversão parcial, com parte do investimento ficando na empresa e parte no protocolo. Existe toda uma discussão filosófica sobre isso que fica pra outro dia.
Vale ressaltar que normalmente o desenvolvimento de um protocolo demora anos, aumentando o nível de risco vis a vis um investimento em startups tradicionais, que normalmente constroem um produto em meses.
- Investimento em empresas listadas ligadas a blockchain: existem uma série de empresas listadas na bolsa que funcionam como proxy. Diversas delas são de mineradoras e muitas ainda estão em processo de listagem. Segue a lista atualizada, até final de fevereiro: Coinbase, Galaxy Digital, Silvergate, Core Scientific, Marathon Digital Holdings, Riot Blockchain, Voyager Digital, Hut 8 Mining Corp, HIVE Blockchain Technologies, Cipher Mining, Bitfarms, Canaan, Argo Blockchain, Stronghold Digital Mining, Bit Digital, GreenBox POS. Em alguns meses as seguintes empresas se juntaram a esse grupo: Circle, Bullish, eToro, Bitdeer, BitFuFu, Apifiny.
- Investimento em empresas privadas ligadas a blockchain: este é o subsetor em que os investidores de tecnologia se sentem mais à vontade, pois de certa forma é o mais semelhante ao seu modus operandi. Investimentos em startups que buscam desenvolver produtos e serviços, seja usando blockchain ou servindo aos protocolos existentes. Um exemplo bem sucedido é a FTX, uma das maiores exchanges de crypto, forte no mercado de derivativos e a OpenSea, o maior marketplace global de NFTs.
Desta forma, temos o seguinte panorama:
- Outros: todas as estratégias cobertas acima são direcionais, ou seja, expostas a beta do setor de crypto, um setor com alta volatilidade diga-se de passagem. Existe uma infinidade de estratégias adicionais, que tomam diferentes riscos de mercado: Arbitragem, Yield Farming e Staking.
Abraços, Edu