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Olá, pessoal! Hoje, vamos voltar às origens! No início, a ideia do bsb era focar na análise da tecnologia blockchain. No final de 2022, decidi expandir os horizontes para o setor de tecnologia como um todo. Houve dois motivos para isso.
Primeiro, tinham muitas coisas interessantes acontecendo em áreas como Deep Tech, IA, Venture Capital e Creator Economy. Segundo, estava claro que o setor passaria por um período de purgatório após a fraude da FTX.
Passado um ano e meio, vamos descobrir como está a cryptoeconomia.
Se tiver apenas um minuto, segue o resumo do texto de hoje:
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De um período de bonança em 2020 e 2021, Crypto passou logo depois por uma tempestade perfeita: subida de juros, ajuste de preços, queda dos investimentos e fraudes.
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Nos últimos 18 meses muito aconteceu: ambiente regulatório melhorou, os ativos se valorizaram, houve uma mudança comportamental, mas a inovação continuou.
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Apesar dos inúmeros desafios, o ecossistema crypto se mostrou muito resiliente.
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Os desafios para sua adoção são conhecidos: muita especulação, baixa adoção e falta de clareza regulatória. Atualmente, acredito mais na adoção de blockchains por incumbentes em setores mais regulados (ex: serviços financeiros). A inovação se concentrará na criação de novas plataformas digitais. Por exemplo, uma rede social construída em blockchain e a adoção de produtos como NFTs.
O Período de Bonança
Durante os anos de 2020 e 2021, ocorreram dois desenvolvimentos positivos na tecnologia blockchain. O primeiro foi a criação de soluções que viabilizaram que as blockchains operassem em escalas muito maiores do que antes. Isso viabilizou as as primeiras aplicações práticas.
No setor financeiro, soluções de Finanças Descentralizadas (DeFi) permitiram que serviços antes realizados apenas via intermediários, pudessem acontecer diretamente entre as partes interessadas. Um exemplo é o protocolo Uniswap, que permite que dois usuários transacionem cryptoativos entre si, sem a necessidade de corretoras e uma bolsa de valores no meio.
Fonte: Appinventiv
No universo dos games, foram lançados jogos coletivos. Milhares de participantes do processo de criação de um jogo recebiam tokens, que lhes davam direito a uma parte do valor econômico futuro oriundo das atividades do jogo em questão.
Por fim, o conceito de NFTs fascinou o mundo com a promessa de melhores modelos de negócios aos artistas. Aqui no bsb, escrevi um artigo sobre o tema.
Diversos projetos de DeFi, Games e NFTs começaram a ganhar tração. Além disso, o sedutor modelo de lançamento de tokens contribuiu para esse crescimento. Usuários recebiam em suas carteiras, tokens que valiam desde algumas centenas até milhares de dólares e podiam ser negociados imediatamente.
Em paralelo a esses desenvolvimentos, o mundo passava pela pandemia, com políticas monetárias e fiscais frouxas. Parte dos recursos injetados na economia foram enviados diretamente aos bolsos dos consumidores e foram utilizados para investimentos especulativos. Com a promessa de altos ganhos em pouco tempo, falta de regulação e fácil acesso, o mercado crypto era campo fértil.
Sam Bankman-Fried e Gisele Bündchen no evento anual da FTX
O valor de mercado dos cryptoativos superou US$3 trilhões. Milhares de desenvolvedores entraram no setor. Com o sucesso de empresas como a Coinbase, os Venture Capitalists investiram mais de US$50 bilhões durante estes anos. Vários projetos captaram sem progresso concreto, baseado apenas em promessas.
Quando a maré baixa é que vemos quem está pelado
O que se seguiu foi uma tempestade perfeita. A subida dos juros desvalorizou ativos pelo mundo, especialmente aqueles de duration mais longa, caso de empresas de tecnologia e cryptoativos. O valor de mercado caiu de US$3 trilhões para US$800 bilhões. Isso resultou em chamadas de margem para empresas que operavam de forma alavancada e agressiva. O primeiro a cair foi o projeto de Stablecoin Luna, seguido pelo hedge fund Three Arrows Capital, além de alguns fundos e projetos menores. No final de 2022, foi descoberta uma fraude na corretora crypto FTX, uma das maiores e mais importantes da indústria.
Sam Bankman-Fried sendo preso meses depois do evento com a Gisele
O Estado da Cryptoeconomia
Desde então, muita coisa aconteceu:
1) O Ambiente Regulatório Melhorou (um pouco)
Houve avanços no tema das stablecoins, as atividades de trading foram mais reguladas e a frente de proteção ao consumidor também melhorou. O que mais se destaca, no entanto, foi a aprovação pela SEC (a CVM americana) do ETF de Bitcoin. Isso trouxe investidores mais tradicionais para o mercado de cryptoativos, aumentando a demanda. Atualmente, existem mais de US$60 bilhões investidos em ETFs de Bitcoins.
2) Os Ativos se Valorizaram
Os avanços regulatórios, somados à recuperação do valor das empresas de tecnologia – é sempre bom lembrar que crypto e empresas tech são altamente correlacionadas – fizeram com que os preços e volumes retomassem e se aproximassem das máximas históricas. É verdade que essa valorização tem se concentrado nas maiores blockchains, especialmente Bitcoin e Ethereum. Tokens de projetos menos maduros continuam valendo uma fração do seu auge.
Valor de Mercado dos Cryptoativos
3) Mudança Comportamental
O fim da FTX, Luna e Three Arrows Capital, três entidades cujos fundadores eram midiáticos e confrontacionais, trouxe uma melhoria ao ecossistema. Estes eram atores ruins que saíram da indústria. A condenação do fundador da Binance, a maior corretora do mundo, também contribuiu para uma mudança comportamental no setor como um todo.
O que isso quer dizer? (i) O nível de alavancagemr diminuiu, até mesmo porque algumas das empresas que ofereciam esse serviço quebraram; (ii) Fundos de Venture Capital desaceleraram seus investimento; (iii) Valuations foram ajustados; (iv) Empreendedores passaram a ser mais cautelosos; (v) A governança e modelo econômico passaram a ter maior alinhamento (por exemplo, lock-ups mais longos).
Volume de investimentos em crypto por parte de fundos de venture capital
Não que tudo esteja resolvido. Ainda existem perguntas sobre os riscos das corretoras que operam globalmente sem ter operações locais, ou seja, escapando da regulação. Soma-se a isso o fato de que diversas atividades que ocorrem nas blockchains, como o exemplo da Uniswap mencionado acima, não são reguladas.
4) A Inovação Continuou
Existem três fontes de inovação em blockchain: desenvolvedores, empresas e governos.
No caso de desenvolvedores, houve uma queda significativa de 24%. Isso faz sentido, pois esse número é correlacionado com o valor de mercado dos cryptoativos.
Fonte: Electric Capital
No entanto, se olharmos o número de desenvolvedores com mais de um ano de experiência em blockchain, a tendência é positiva. Isso é importante, pois 75% de todo o código criado em blockchain é escrito por desenvolvedores com esse perfil.
Fonte: Electric Capital
Também temos visto novos projetos, como a Farcaster, uma rede social descentralizada que está ganhando popularidade, substituindo em parte a relevância do X/Twitter no mundo crypto.
No caso de grandes empresas, estamos vendo várias iniciativas usando blockchain.
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O PayPal lançou uma stablecoin de dólar com o objetivo de criar um tipo de PIX global.
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A Visa estendeu a VisaNet para aceitar pagamentos com a USDC.
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A Goldman Sachs está desenvolvendo uma plataforma para ativos digitais e vem testando a emissão de bonds usando blockchains.
No caso dos governos, um dos melhores exemplos está no Brasil. O Drex será uma moeda digital oficial emitida pelo Banco Central. Essencialmente, trata-se de uma versão digital do Real. Uma de suas grandes vantagens é que o governo conseguirá ter maior controle sobre as transações financeiras, o que poderá diminuir o volume de sonegações.
Plataforma Drex
Conclusão: apesar dos inúmeros desafios, o ecossistema crypto se mostrou muito resiliente.
Mas para que servem as Blockchains mesmo?
Uma forma de entendermos onde estamos no ciclo de adoção de uma tecnologia é listar seus potenciais usos:
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Especular: A atividade de negociar pelo simples ato de apostar na subida ou descida de preços continua sendo a peça central da cryptoeconomia.
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Reserva de Valor: Existem aqueles que acreditam que o Bitcoin pode ser uma espécie de ouro digital, devido à sua escassez. É inegável que o Bitcoin têm atributos: possui governança, escassez, é isento de interferência de governos e é transportável. Existe uma razão para existir, portanto, possui valor.
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Tokenização: A bolsa de valores é um dos negócios mais lucrativos da história do capitalismo. Seria possível disruptá-lo? Talvez, mas já vi dezenas de projetos de tokenização falharem pois “na teoria é fácil, mas na prática é muito difícil“. Atualmente, sou cético sobre esse uso, por uma combinação de risco regulatório e força dos incumbentes.
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Engajamento: Blockchains podem ser uma ferramenta através da qual empresas criam engajamento com seus consumidores. O melhor exemplo disso são os NFTs. O conceito de Propriedade Digital é algo natural para as novas gerações e possui muito potencial. Basta aparecer um empreendedor com a abordagem correta, que este hábito de nicho pode ganhar adoção em massa.
NFTs Bored Monkey
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Plataforma para Transações Financeiras: DeFi permite que diversas atividades possam ser realizadas sem a necessidade de intermediários. Este é outro uso que existe apenas em um nicho. A questão regulatória continua sendo o principal impeditivo para a adoção em massa. Contratos inteligentes firmados em blockchains, com a sua execução mediante o atingimento de certos eventos, sem a necessidade de cartórios, me parece algo factível. Além disso, acredito que existem várias verticais (como pagamentos) em que faz sentido soluções com blockchain ganharem espaço .
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Plataformas Digitais: A oportunidade é recriar serviços digitais que já consumimos por grandes empresas, mas de forma descentralizada. A ideia é de um Instagram ou Youtube em que não existe um dono que possa censurar um membro, mas que um membro pode ser banido caso não cumpra as regras pré-definida no código da rede social. Essa é uma uma grande oportunidade.
Farcaster, a rede social descentralizada
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“Moonshots”: abordagens revolucionárias e transformacionais para a resolução de grandes problemas, em vez de melhorias incrementais. Alguns grupos vêm pesquisando formas de utilizar blockchains para certificar mídias criadas por humanos, diferenciando-as daquelas criadas por Inteligências Artificiais. Outros querem usar blockchains para fazer criptografia avançada. Para esses tipos de uso, atualmente não tenho clareza sobre a viabilidade.
Zero Knowledge Proof é uma solução de segurança usando blockchain que mantém a privacidade dos dados
Vale a pena investir em blockchains?
Podemos investir dinheiro, tempo, atenção e credibilidade. O ecossistema blockchain é o principal herdeiro do movimento Open Source, algo que precisa ser melhor compreendido pelo público em geral (estou devendo um artigo sobre isso no bsb). Eu acredito que a resposta a pergunta acima é sim, mas o ciclo de adoção será mais longo do que o sonho de 2020/21.
Ficou claro nestes últimos meses o quanto o regulador é importante. Diferente da IA, blockchains podem mudar as estruturas de diversos mercados. Com sua adoção, entidades poderosas (como bolsas de valores) poderiam perder sua importância. Isso é uma das razões de ser tão polêmica.
O futuro terá algum nível de adoção dessa tecnologia. Existe um possível caminho para que o Bitcoin se torne um ouro digital. O problema é que isso garante o futuro apenas do Bitcoin.
Indo além, um cenário realista é um em que apenas incumbentes utilizem blockchains para melhorarem suas operações.
Outro cenário, mais interessante, é se a tecnologia conseguir oferecer uma experiência superior para os usuários. Proporcionando algo que não era possível antes pode originar negócios disruptivos.
Ambos os cenários são possíveis. Os desafios são conhecidos: muita especulação, baixa adoção e falta de clareza regulatória. Atualmente, acredito mais na adoção de blockchains por incumbentes em setores mais regulados. A inovação estará em plataformas digitais.
No entanto, uma coisa é certa: a tecnologia blockchain veio para ficar. Cabe ao leitor não descartá-la e prestar atenção no seu desenvolvimento.
Grande abraço,
Edu
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