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🤗 Twitter: a empresa mais importante dos últimos 10 anos, capaz de influenciar de eleições a hábitos culturais esta numa encruzilhada pela dominância da próxima plataforma computacional e no seu ecossistema, o Metaverso.
👍🏻 Nutella:
- A Meta teve um crescimento formidável nos últimos 18 anos, conseguindo mudar da plataforma desktop para smartphone e ganhar ainda mais relevância.
- Zuckerberg vê no Metaverso a solução de seus problemas: eliminar o risco de hardware, crescer o mercado potencial e ser ainda mais presente na vida das pessoas.
- A estratégia de verticalizar o Metaverso inclui gastos equivalentes ao do programa Apollo, sim aquele que levou o homem a Lua.
- Os investidores estão muito céticos, mas Zuckerberg já os provou errado mais de uma vez.
👊🏻 Raiz:
O Facebook, hoje Meta, é a empresa mais importante dos últimos 10 anos. Nenhuma organização teve tamanho impacto na sociedade, ajudando em evoluções sociais, revelando radicalismos e influenciando eleições. Para compreender o mundo hoje em dia, é preciso entender a Meta.
Colocando em números:
- Diariamente 1.98 bilhões de pessoas entram no Facebook, equivalente a c. 25% da população mundial, ou 32% da população acima de 14 anos. Diariamente 2.93 bilhões de pessoas usam algum dos aplicativos da Meta: Facebook, Instagram, Whatsapp, Messenger, Workplace, Oculus e Portal. Para efeito de comparação, o catolicismo tem 2022 anos e 1.3 bilhões de fiéis.
- Em 2021 a empresa faturou c.US$ 116 bilhões e teve lucro de c.US$ 57 bilhões. Possui valor de mercado de US$295 bilhões, tendo batido US$962 bilhões um ano atrás
Breve história
Fundada em 2004 no campus da Universidade de Harvard por Mark Zuckerberg e os co-fundadores Dustin Moskowitz, Chris Hughes e Eduardo Saverin, o Facebook teve sua origem contada de forma brilhante no filme A Rede Social. O fato dele ter perdido o Oscar de melhor filme para o Discurso do Rei comprova que o mundo não é justo. Utilizando a idéia originalmente concebida por três colegas de faculdade, sendo os irmão Winklevoss os mais notórios, Zuckerberg construiu uma rede social nascida de um ponto de global de prestígio social e cultural, Harvard. O timing foi perfeito, dado que em 2004 startups focadas em consumidor não estavam na moda, o Facebook teve pouca competição e conseguiu alcançar o primeiro milhão de usuários ainda no seu primeiro ano.
O crescimento do Facebook foi um dos mais extraordinários da historia da humanidade. Vários aspectos explicam esse crescimento:
(i) Ele atende uma necessidade primitiva humana, nosso desejo de nos conectarmos e nos sentirmos parte de uma comunidade. Aos poucos, com a adição de features de fotos e videos, o Facebook passou a endereçar uma segunda vontade humana, nosso desejo por status e vaidade.
(ii) Um produto e estratégia de crescimento executados de forma exemplar
(iii) O amadurecimento da tecnologia de internet e armazenamento, que permitiu a empresa escalar.
Com a vinda de Sheryl Sandberg em 2008 a empresa se preparou para monetizar o produto que não parava de crescer.
Um fato que poucas pessoas lembram é que tanto o Google quanto o Facebook não operam em mercados de alto crescimento. Sim, as curvas de adoção de internet e smartphone são íngremes, mas o mercado em que atuam, de publicidade, se mantém relativamente estável no mundo, c.1.5% do PIB global. Ou seja, para crescer 20% ao ano, uma empresa precisa roubar mercado dos seus concorrentes. E se Google+Facebook tem valor de mercado de c.US$1.5 trilhões, alguém cedeu esse valor a eles. A resposta: mídia tradicional. Com dados granulares sobre seus usuários e mais próximo da boca do funil, estas duas empresas conseguiram melhorar a eficiência do gasto de marketing das empresas em ordens de grandeza.
2011 é considerado o inicio do “Era do Smartphone”. O primeiro iPhone foi lançado em 2007, mas demorou algunos anos até os empreendedores entenderem como utilizar suas novas capacidades de forma criativa.
O Facebook, já como uma empresa listada, foi rápido em identificar a mudança da plataforma tecnológica e como o smartphone iria democratizar e crescer o número de usuários. Em dois movimentos rápidos, comprou o Whatsapp por US$20 bi e o Instagram por US$1 bi, colocando a sua máquina de monetização para crescer o último, enquanto deixava o primeiro crescendo sem receitas. A compra do Instagram foi belamente retratada no podcast do Acquired.
Isso fez do Facebook uma das poucas empresas dominantes numa plataforma que conseguiu ficar ainda mais dominante na geração seguinte e fez isso sem quedas de receita. Tá, provavelmente a empresa pagou demais pelo Whatsapp e foi ineficiente em diversos momentos da integração do Instagram, mas o resultado final foi excepcional. Tem muito Yahoo, Palm Pilot e Blakcberry que ficou pelo caminho…
Impacto
É de cair o queixo a escala em que o Facebook mudou o mundo:
– Ferramenta para a Diversidade: as legítimas e necessárias demandas de minorias sempre pouco representadas e discriminadas na sociedade ganharam uma ferramenta poderosa no Facebook. Primeiro elas podiam agora se conhecer e se organizar, mas mais importante que isso, elas podiam ser vistas! Ao dar aos usuários a capacidade de postar, o poder de divulgação saiu de cargos como Diretor de Televisão, Rádio ou Jornal e foram parar nas mãos dos usuários. Uma cantora como a Ludmilla teve seu inicio nas redes sociais. Quando lembro que apenas em 2009 tivemos a primeira protagonista negra na novela das 8, sendo que este programa existe desde a década de 70 e o Brasil é um país majoritariamente negro e mulato, começo a entender o tamanho da falta de representatividade na televisão. O Facebook, Instagram e Youtube deu espaço aqueles que não tinham.
– Ajudou pequenos negócios: se antes era preciso milhões para anunciar na TV, com R$10 é possível começar a anunciar no Facebook. Marketing é fundamental para qualquer empresa e o Facebook ajudou na diminuição da barreira de entrada para começar um negócio e aumentar suas chances de sucesso. Uma nova carreira surgiu: Influencers, com diferentes opiniões, cores e pontos de vista. De negócios de bairro a novas empresas CPG como a Sallve tem no Facebook/Instagram/Whatsapp ferramentas importantes.
– Movimentos Políticos: da Primavera Arabe às manifestações brasileiras de 2013, várias indignações ganharam escala e viraram movimentos políticos via Facebook.
Foram todos os impactos positivos? Não, alguns dizem que no saldo final, o Facebook causou mais danos que benefícios:
– Influenciou eleições: quando todos os partidos sabem fazer marketing, deveriamos convergir para um vencedor que represente os desejos da população. Com a entrdada de uma nova ferramenta poderossisima e que não utiliza as regras conhecidas de TV&Radio, o Facebook permitiu a manipulação da informação, levando a distorções e “Fake News”. Eventos como o Brexit e a atuação da Cambridge Analytica deixaram claro o impacto negativo na distorção do processo eleitoral.
– Aumento na depressão adolescente: o Wall Street Journal revelou recentemente que a companhia sabia do impacto negativo que sua plataforma causa principalmente em adolescentes mulheres. O bullying nas redes sociais é problema sério e a glorificação de estilos de vida inacessíveis para a maioria da população leva a frustrações e doenças mentais.
– Radicalismo: se qualquer pessoa pode postar, vai ter gente postando mentira. Isso se torna um problema quando o algoritmo do Facebook otimiza para engajamento e posts radicais, que distorcem fatos ou simplesmente mentem, geram mais engajamento e ganham uma audiência desproporcional.
– Jornalismo: o quarto poder, a mídia, detinha o monopolio da informação. Isso mudou com o Facebook. As pessoas passaram a postar e competir. O que é pior foi que ao entrarem nessas plataformas, a mídia tradicional se colocou no mesmo nivel de qualquer pessoa, diminuindo sua credibilidade. Se hoje temos uma mídia mais opinativa, em grande parte isso aconteceu devido ao Facebook, que fez com que as empresas tradicionais encolhessem – opinião custa menos que jornalismo investigativo – e se radicalizassem, pois o Facebook ensinou que isso vende.
Muita gente adora culpar o Mark Zuckerberg por tudo que é ruim no mundo. Não sou um deles. O fato é que se não existisse o Facebook na sua encarnação atual, teria outra coisa semelhante e com os mesmos problemas. O que importa é como nós como sociedade lidamos com esses problemas: legislando, educando, punindo e exigindo, como cidadãos e consumidores.
O que o Mark aprendeu nessa jornada
Além de todos os aprendizados para ser um CEO e líder empresarial, tem algumas lições que vale a pena ressaltar aqui e explicam os próximos passos da companhia:
– Investir hoje para colher os frutos amanhã: crescendo sua empresa num mundo de juros a 0%, Zuckerberg sempre investiu os lucros da companhia para que ela continuasse crescendo. Isso se mostrou certo em vários momentos, principalmente com a compra do Instagram.
– Uma nova plataforma computacional transforma nosso negócio: quando as pessoas migraram do Desktop para o Smartphone como principal computador, o Facebook enfrentou um risco existencial. Saiu mais forte, mas o papel do CEO envolve se preparar, ter visão de longo prazo e se antecipar a esses movimentos.
– É ruim não ser dono do hardware: ao ser dependente de smartphones de outras empresas, o Facebook tem um risco de plataforma e várias vezes foi afetado por isso. Uma mudança no iOS da Apple fez sua ação cair mais de >20% num único dia. Para a Meta ser dominante, ela precisa dominar o hardware.
– Opinião pública não afeta o fluxo de caixa da empresa: autoexplicativo.
Entra o Metaverso
Hoje a forma como interagimos com os computadores e mundo virtual não é ótima. Olhamos para telas que deixam nossos olhos cansados e o uso continuo de teclado nos deixa com dor nas mãos. Pensamos mais rápidos que escrevemos. Se existe espaço para uma melhoria de hardware e da experiência de interação com os mundos virtuais e eu sou o Mark Zuckerberg, o que fazer? Duas opções:
1) Esperar a Apple lançar uma nova plataforma computacional, ver ela ganhar escala e continuar nas mãos dela?
2) Desenvolver a minha própria, ser dono do meu destino e verticalizar?
Em outubro/2021, com a ação na máxima, o Facebook muda seu nome para Meta. Em 2014 a empresa comprou uma empresa de hardware de realidade virtual chamada Oculus. O futuro do trabalho e relações pessoais será mais digital na visão da Meta e ela terá uma opção de produto e ecossistema no mercado. Isso ela chamou de Metaverso.
PS: o Metaverso será tema do próximo artigo do bsb e já adianto que não concordo com a visão de uma empresa sendo dona dele.
O desafio de criar uma nova plataforma é que ela não depende de apenas uma descoberta tecnológica, mas de várias. Hardware, Plataformas Virtuais, Interoperabilidade, Pagamentos, Computação, Rede são alguns dos pontos que precisam melhorar forma de lidar com tecnologia.
No entanto o cara decidiu que ele quer porque quer que a Meta seja a dona do Metaverso, que vai fazer quase tudo dentro de casa e esta disposto a colocar muito dinheiro nisso. Quanto? Analistas calculam que o equivalente ao custo do projeto Apollo (mesmo ajustando pela inflação).
Tudo bem quando as coisas vão bem. Se a empresa está crescendo, entregando resultados, economia bombando, pode fazer o que quiser. Mas a Meta esta com alguns problemas:
1) A receita caiu nesse ano e aumentou os custos de forma agressiva, massacrando a margem EBITDA que foi de 36% para 20% no último trimestre. Estamos entrando numa recessão, juros aumentando e a Meta ficou “gorda” e sem crescimento.
2) Regulação negativa, com temas como o DMA e Antitruste.
3) A Apple mostrou o quanto a Meta é vulnerável a risco de plataforma.
4) TikTok, Netflix e Apple competindo por publicidade.
5) Saída de executivos.
6) Até agora os produtos de Metaverso e realidade virtual da Meta parecem coisa de Second Life…O enorme salto tecnológico, composto de evoluções em várias áreas, ainda não veio. Existem relatos que nem mesmo os funcionários utilizam a sua plataforma.
Resultado: as ações da Meta acumulam queda de 67% no ano e estão sendo avaliadas a múltiplos menores que seus comparáveis.
Esse não é o momento de “sair inventando”, a Meta está sob ataque e se para Zuckerberg a solução passa por gastar tanto dinheiro quanto o que colocou o homem na Lua, talvez o que ele está nos dizendo é que a empresa esta mais em risco que os investidores imaginam.
A perspectiva do Investidor
Um mês atras o Altimeter Capital, acionista de longa data da companhia mandou uma carta para Mark Zuckerberg e o conselho da Meta. Ele pediu corte de pessoal em 20%, corte de US$ 5 bilhões em Capex e limitar os investimentos no Metaverso em US$5 bilhões/ano.
Alguns dias depois a Meta anunciou o desligamento de 11 mil profissionais, 13% de sua força de trabalho. Isso apenas a levou de volta ao patamar de funcionários de Novembro/2021.
Para onde a Meta vai?
Já estamos chegando no limite auto-imposto de tamanho de texto e temos que chegar numa conclusão. A Meta tem um futuro? Se sim, será no Metaverso?
Com o tamanho e dominância que possui, é claro que a Meta tem um futuro próspero pela frente. O desafio é entender como ele se dará e se o preço da ação já reflete esse cenário. Vejo três caminhos:
1) Se tornar uma empresa focada em geração de caixa, mantendo seu foco nas plataformas atuais. O Whatsapp por exemplo está apenas no início da sua monetização.
2) A Meta aposta tudo no Metaverso e joga a moeda, cara ou coroa para ver se irá criar ou destruir valor.
3) Ser um player do Metaverso, mas trabalhando em conjunto com outras empresas e com Open Source. Isso manteria a empresa num caminho financeiramente saudável, enquanto mantém opcionalidade de crescimento. O que a impede de fazer isso? Sua cultura. A Meta já foi uma plataforma aberta, mas fechou quando viu que empresas como Zynga estavam crescendo e capturando “valor demais”. O que a Meta precisará para seguir nesse caminho é uma mudança cultural, algo sempre difícil de fazer, especialmente com o mesmo CEO…
E semana que vem nos vemos no Metaverso!
Grande abraço,
Edu
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