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Olá, pessoal! Em apenas 8 anos, Andrew Wilkinson transformou US$5 milhões em uma holding avaliada em mais de US$400 milhões ao adquirir empresas de tecnologia.

Ele não alcançou esse feito investindo em unicórnios, mas aplicando a filosofia de Warren Buffett no mercado de empresas de tecnologia. Hoje vamos conhecer a história da Tiny.

Se tiver apenas um minuto, segue o resumo do texto de hoje:


  • Um designer prodígio e empreendedor bem sucedido, Andrew Wilkinson decidiu que não iria montar, mas sim comprar empresas estabelecidas.

  • Ele estudou a filosofia de Warren Buffett por anos e adaptou ao mercado que conhecia: empresas de Internet e Tecnologia.

  • A Tiny se diferencia de outros investidores pela sua rapidez, simplicidade e foco no longo prazo. Sua gestão é descentralizada e as empresas operam de forma independente.

  • Essa estratégia possui uma uma ótima relação risco vs retorno. Não é tão glamoroso ou rápido quanto investir no próximo unicórnio, mas funciona.


Designer Prodígio

Andrew Wilkinson

 

Andrew Wilkinson nasceu em 1986 em Victoria, no Canadá. Desde cedo, ele se interessou por programação e design, que aprendia no seu tempo livre. Com apenas nove anos de idade, criou um popular site sobre a Apple e teve a oportunidade de entrevistar Steve Jobs.

Wilkinson abandonou a universidade após apenas cinco meses de aulas. Ele queria construir coisas. Depois de alguns meses trabalhando em uma agência de design, decidiu lançar sua própria empresa. Em 2006, aos 20 anos, sem qualquer capital ou funcionários, fundou a MetaLab.

Seu talento para design o ajudou a conquistar clientes como Slack, Pinterest e TED. Esse portfólio estabeleceu a empresa como uma referência em design de alta qualidade e experiência do usuário.

A empresa cresceu rapidamente. No primeiro ano, faturou US$ 250 mil. Seis anos depois, a MetaLab gerava US$ 3 milhões em receita anual. Embora o negócio de agências geralmente tenha margens baixas, a MetaLab mantinha uma margem de lucro de 50%. Isso acontecia por dois motivos:

  1. Gestão: Wilkinson geria a MetaLab com um rígido controle de custos. Cada gasto precisava ser justificado.

  2. Arbitragem de custo: Enquanto seus clientes estavam no Vale do Silício, onde o custo dos designers era alto, os funcionários da MetaLab estavam em Victoria, que tem uma média salarial mais baixa.

Os lucros da MetaLab eram distribuídos via dividendos para Wilkinson anualmente.

Logo da MetaLab

 

Está sobrando dinheiro, e agora?

Wilkinson profissionalizou a MetaLab, de forma que não precisava estar no escritório todos os dias. Com 23 anos, ele tinha tempo e dinheiro nas mãos. O que fazer?

Ele decidiu incubar novos negócios usando os lucros da MetaLab. Seu raciocínio era simples: se conseguiu montar uma empresa de sucesso sem dinheiro, com capital disponível deveria ser mais fácil.

Em 2009, ele começou a incubar novas empresas, mas essas iniciativas foram um fracasso. As empresas nascidas na MetaLab eram dependentes da estrutura da empresa-mãe e compartilhavam recursos. Wilkinson precisava se desdobrar liderando diferentes empresas.

Na mesma época, ele também foi abordado por fundos de Private Equity que queriam comprar sua empresa. Ele descreveu a experiência de lidar com esses fundos como algo “miserável”. Os investidores demoravam em suas análises, ofereciam acordos complexos e queriam transformar completamente sua companhia.

Warren Buffett

Em 2014, Wilkinson estava frustrado. Foi então que ele começou a estudar Warren Buffett e sua filosofia de investimentos.

 

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Warren Buffett

Buffett construiu uma das maiores empresas do mundo investindo em ações de empresas subvalorizadas em relação ao seu valor intrínseco. Sua preferência é por empresas com fundamentos sólidos, como lucro consistente, pouca dívida, boas margens de lucro e alto retorno sobre o capital. As empresas da Berkshire Hathaway, sua holding, possuem uma clara vantagem competitiva sobre a concorrência. Ele gosta de investir em negócios simples, que consegue entender, dentro do seu chamado círculo de competência, ou seja, onde ele tem conhecimento diferenciado. Por fim, paciência e disciplina fazem com que Buffett faça poucos negócios, sem pressão para investir.

Conceito de Círculo de Competência

 

A Berkshire Hathaway opera de forma descentralizada. Cada empresa tem sua própria gestão, incentivos e negócios. Não existe qualquer tipo de sinergia operacional. Cada empresa é dona do próprio destino.

O trabalho de Buffett é alocar capital para as diferentes companhias de acordo com a performance e retorno sobre o capital investido. Ele também escolhe os CEOs de cada uma de suas empresas. Seu objetivo é não participar no dia a dia.

Wilkinson ficou encantado. Essa era a resposta aos dilemas empresariais que enfrentava.

Em 2016, ele montou uma holding. Seu sonho era criar uma versão em miniatura da Berkshire Hathaway, copiando o modelo de Buffett. O nome escolhido foi “Tiny”, que em português traduz para “pequeno” ou “minúsculo”.

Modus Operandi de Buffett:

  1. Investir primordialmente o capital próprio: A Tiny não seria uma gestora de recursos de terceiros.

  2. Comprar empresas nos setores em que o fundador tem conhecimento. No caso de Wilkinson, seria em Internet, Design e Tecnologia.

  3. Foco no longo prazo e capital permanente: A Tiny não precisa vender empresas de forma precoce.

  4. Comprar empresas por menos que seu valor intrínseco.

  5. Modelo de gestão descentralizado: sem envolvimento no dia a dia.

  6. Foco na alocação de capital: As empresas retornam todo o dinheiro excedente para a Tiny, que decide onde investir.

Começando com um Golaço

Depois de dois anos estudando tudo sobre o criador da Berkshire Hathaway, era hora de colocar o aprendizado à prova e fazer o primeiro investimento da Tiny.

Utilizando o conceito de investir apenas dentro do seu círculo de competência, Wilkinson começou a pesquisar empresas ligadas à tecnologia, design e Internet.

Wilkinson e seu sócio, Chris Sparling, que se juntou para ajudar no projeto de incubação, começaram a investir, mas não tinham qualquer experiência nessa atividade. Eles não sabiam fazer análises financeiras, não tinham noção de quais documentos eram necessários para formalizar uma oferta de compra e nunca haviam realizado uma diligência.

O que acreditavam era que (1) tinham bom senso; (2) as tecnicalidades poderiam ser aprendidas na prática; e (3) se mantivessem fiéis ao estilo de Buffett, poderiam ter sucesso.

Página da Dribbble

 

A Dribbble era uma comunidade online e plataforma para profissionais criativos, especialmente designers. Os profissionais podiam mostrar seu trabalho, compartilhar ideias e se conectar com outros na indústria. A plataforma era um dos 1.000 sites mais visitados da internet, com uma legião de fãs. Em particular, chamava a atenção de Wilkinson o fato de que ela não era dependente do Facebook ou Google para tráfego. Além disso, era rentável e crescia ano a ano.

Wilkinson abordou os fundadores e perguntou se tinham interesse em vender. Ele viu a oportunidade porque a Dribbble era muito importante para os usuários, mas os fundadores não eram bons no lado de negócios. Em suas mãos, a empresa poderia ser maior. O que a Dribbble precisava eram alguns ajustes, algo que um time profissional poderia trazer.

Wilkinson gosta de se envolver imediatamente após uma aquisição, mas isso dura poucas semanas. Ele foca em “dar algumas marretadas nos negócios”, especialmente em alavancas de crescimento.

Em 2017, a Dribbble faturou US$ 2 milhões. Nesse ano, a Tiny comprou 100% da empresa por US$ 5,5 milhões. Junto com a compra, Wilkinson contratou um novo grupo de executivos.

Wilkinson orientou o time a expandir a oferta de serviços na plataforma, melhorar a experiência do usuário, integrar novas ferramentas, buscar parcerias e aumentar a monetização. O plano deu certo. Em 2023, a Dribbble faturou US$ 61 milhões, com EBITDA de US$ 8 milhões. Numa conta de padeiro, a Dribbble atualmente valeria algo em torno de US$ 120 milhões, um retorno de mais de 20x para a Tiny.

Foi um excelente começo.

Criando Vantagens Competitivas

Dinheiro é uma commodity. No mundo dos investimentos, se você vendeu uma ação de uma empresa, pouco importa se o comprador foi o fundo A, B ou C. Existem poucas formas de se diferenciar.

A Tiny é diferente nos seguintes elementos:

  • Velocidade

  • Simplicidade

  • Longo Prazo

Velocidade: Wilkinson dá uma primeira resposta para uma oportunidade em até 48 horas após seu recebimento. Uma oferta de compra é apresentada em até 7 dias, e uma transação é fechada em 30 dias.

Simplicidade: A compra é feita em dinheiro, pago de uma vez. Não há estruturas de earn-out, pagamento em prestações ou uso de classes de ações diferentes.

Longo Prazo: A Tiny opera atualmente como uma empresa listada, em que Wilkinson e Chris têm 80% de participação. Isso significa que seu capital é permanente e predominantemente proprietário. Isso cria um alinhamento de longo prazo, pois empresas são feitas para operar na perpetuidade.

Os fundadores da Tiny buscam passar a imagem de pessoas normais, não de fundos

 

Por fim, a Tiny se compromete a manter a cultura da companhia adquirida. Existem ajustes no modelo de negócio e na operação, mas estes não mudam a identidade da companhia. O objetivo é comprar boas empresas e mantê-las a longo prazo. Dito isso, ela também pode vender empresas do portfólio.

Qual o lado ruim desse modelo para o vendedor? A Tiny gosta de pagar barato e nunca faz a maior oferta em um leilão. Como diria Warren Buffett, “O valuation que eu pago é a minha diligência”. As ofertas de compra vêm com uma boa margem de segurança.

A Tiny é o comprador ideal para um tipo específico de vendedor: pessoas que têm orgulho dos seus negócios, querem vê-los continuar a existir, mas também desejam fazer uma venda rápida.

Exemplos de situações comuns para a Tiny incluem: (i) Empresas que captaram dinheiro com Venture Capital, mas que, após muitos anos, não conseguiram atingir a escala necessária para uma grande venda. (ii) Empreendedores cujos sócios querem vender, mas que desejam continuar no negócio. (iii) Empresários que, após construírem uma empresa, querem iniciar uma nova jornada empreendedora.

Surfando a Onda Shopify

Em 2019, Wilkinson conheceu o Presidente da Shopify. A plataforma, que capacita pequenos lojistas a criarem soluções de e-commerce, estava em uma trajetória de crescimento exponencial. Wilkinson ficou fascinado com a empresa e queria encontrar uma forma de lucrar com esse movimento.

Na época, a Shopify estava criando um ecossistema de prestadores de serviços e produtos que poderiam ser oferecidos em sua plataforma. Esse seria o ponto de entrada para Wilkinson.

Ecossistema Shopify

 

A Tiny montou uma subsidiária chamada WeCommerce, focada na aquisição e gestão de negócios dentro do ecossistema de parceiros da Shopify. A empresa comprou, construiu e expandiu um portfólio de empresas que oferecem ferramentas, aplicativos e serviços para os comerciantes da Shopify. Entre os ativos comprados, estavam criadores de temas para lojas e uma plataforma que permite aos comerciantes criar galerias “shoppables no Instagram”, entre outros.

A estratégia deu tão certo que, em 2020, a WeCommerce fez um IPO. Em 2023, a própria Tiny se fundiu a ela.

Wilkinson descreveu a estratégia da WeCommerce como a de uma rêmora, um peixe conhecido por sua capacidade de se fixar a outros grandes animais marinhos, como baleias. Ela se associou à “baleia Shopify” e conseguiu surfar em seu crescimento.

Remôras coladas num tubarão

 

A Estratégia da Tiny

A Tiny gosta de investir em negócios com as seguintes características:

  • Altas margens, saudáveis e sustentáveis.

  • Lucrativos, com lucros de pelo menos US$ 500 mil até US$ 50 milhões.

  • Vantagem competitiva (ex: marca, comunidade ou nicho).

  • Modelo de negócios simples.

  • Boa equipe de gestão.

Em resumo, estes são negócios de internet de alta margem, que não precisam de muitas pessoas ou uma tecnologia complexa para operar.

Wilkinson gosta de descrever os negócios em que investe como “empresas Nova Zelândia”. O que isso quer dizer?

É uma empresa que está no meio do nada, ninguém está prestando atenção, mas cresce de forma saudável e silenciosa. Não corre risco de entrar em uma guerra nuclear. É uma empresa autossuficiente e bem-sucedida, com independência de recursos. Exatamente igual a Nova Zelândia.

Distância da Nova Zelândia para diferentes cidades

 

Um ponto que Wilkinson detesta são empresas em setores que podem vir a competir com startups financiadas por Venture Capital. Ele aprendeu isso por experiência própria.

Em 2010, a MetaLab incubou uma empresa chamada Flow, um software de produtividade. Wilkinson investiu US$ 10 milhões nela, que acabou falindo. O problema foi a Asana, uma competidora fundada por Dustin Moskovitz, um dos cofundadores do Facebook. A Asana captou cerca de US$ 360 milhões para competir no mesmo mercado e foi a vencedora

Portfólio

A Tiny é dividida em três grupos operacionais:

1) Beam: Inclui a MetaLab e outras empresas de serviços. São agências que criam produtos digitais, como sites e aplicativos, para grandes empresas. A Beam é uma geradora de caixa para a Tiny.

2) WeCommerce: Reúne as empresas de software e temas digitais personalizados que apoiam comerciantes, principalmente no ecossistema Shopify.

3) Dribbble: Plataforma para designers, que atualmente possui outras empresas como parte de seu ecossistema.

Logos de algumas empresas da Tiny

 

O portfólio da Tiny é composto por ferramentas de software, empresas de mídia, job boards, marketplaces, comunidades e agências. Todas derivam do círculo de competência de Wilkinson e sua equipe. São 40 companhias, com receita consolidada de US$ 185 milhões, US$ 46 milhões de EBITDA e valor de mercado de US$ 400 milhões. No último ano, a empresa sofreu uma desvalorização de 45%. Wilkinson tem aproveitado esse momento para recomprar ações.

Como a Tiny procura empresas?

No melhor estilo Warren Buffett, Wilkinson sabe cultivar sua imagem. Ele se faz muito presente nas mídias sociais como X/Twitter e em podcasts. Da mesma forma que Buffett o faz, mas de uma forma diferente, com suas entrevistas na mídia tradicional e a reunião anual da Berkshire.

Evento Anual da Berkshire Hathaway

 

Empregando CEOs e Alocando Capital

As duas principais responsabilidades de Wilkinson na Tiny são (i) encontrar executivos para liderar as empresas adquiridas e (ii) alocar capital.

Encontrar talentos é uma das maiores dificuldades. Wilkinson remunera bem e contrata CEOs experientes. No entanto, o bônus é baseado no valor criado. A medida pela qual a performance é julgada é o Retorno Sobre Capital Investido. Os bônus dos executivos são utilizados para comprar ações na Tiny Holding, que é listada na bolsa do Canadá.

Da mesma forma, Wilkinson faz uma gestão focada em retorno financeiro. Recursos podem ser usados para financiar crescimento, fazer novas aquisições, recomprar ações ou distribuir dividendos.

Estratégia de Fluxo de Caixa da Tiny

 

Aprendizados

Eu adoro o modelo da Tiny. Ele é admirável por várias razões:

Primeiro, estou convencido de que esta é uma das melhores formas de construir patrimônio, especialmente quando consideramos o retorno ajustado pelo risco. Não é tão glamoroso ou rápido quanto investir no próximo unicórnio. Começar empresas é divertido e glorificado, mas escalar negócios já estabelecidos é mais fácil e menos arriscado.

Segundo, é uma abordagem prática: otimizar despesas, comprar empresas com desconto e buscar crescimento sustentável, com foco no retorno sobre o capital investido. A Tiny possui um tipo de disciplina financeira que é raro encontrar em empresas de tecnologia.

Terceiro, admiro o fato de que Wilkinson não copiou exatamente o que Warren Buffett faz. Ele pegou os princípios e adaptou-os à sua realidade e experiência. O nicho de pequenas empresas de Internet, Tecnologia e Design, que são pequenas demais para Private Equity e não atraentes para Venture Capital, é pouco atendido. Ele tinha uma vantagem e se colocou como um dos poucos provedores de liquidez, o que é uma forma inteligente de fazer bons negócios.

Por fim, gosto de quem pensa diferente e traça seu próprio caminho. Andrew Wilkinson tem muito a ensinar e, com apenas 38 anos e uma fortuna de US$ 400 milhões, quem sabe não estamos apenas no começo da trajetória do Warren Buffett desta geração.

Grande abraço,

Edu

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