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Feliz Ano Novo! Se você tem apenas um minuto, aqui está o que os investidores, operadores e fundadores devem saber sobre o que vai acontecer em 2023:


Resumo do Artigo

  • Mais Opções de Investimentos
  • Big Techs mais rentáveis, mas crescendo menos
  • Oportunidade da China
  • Mais um ano difícil para as startups
  • Venture Capital no Divã
  • E Crypto? Está difícil
  • Boas notícias? Muitas: Geopolítica, IA e Clima

 

É muito difícil prever, principalmente o futuro” – Provérbio Chines e mantra do meu pai

 

Planos não valem nada, mas planejamento é tudo” – Dwight D. Eisenhower, 34* Presidente Americano

 

Eu quero focar este primeiro texto do ano no ambiente macro e os impactos nos mundos de tecnologia, investimento e crypto pois é como sempre começo qualquer ano. Para todas as previsões, assumam que são apenas válidas se o mundo ficar remotamente normal em 2023. Se algo drástico acontecer, automaticamente deixam de valer. Também me reservo o direito de mudar de opinião a qualquer momento 😄.

Este artigo é o resultado do mosaico de fontes como Goldman Sachs, J.P. Morgan, Morgan Stanley, BlackRock, conversas com mentores, investidores e dados brutos. Caso queira ler todas as previsões de especialistas, a Bloomberg fez um ótimo apanhado.

Cada um diz uma coisa diferente, o que faz o trabalho do analista mais difícil. Por exemplo, enquanto a Goldman Sachs e Morgan Stanley se mantiveram otimistas com 2022 ao final de 2021, o JP Morgan foi mais neutro e a BlackRock acertou na mosca com uma visão mais negativa sobre inflação, juros e que ativos de risco iriam sofrer.

 

A variação de possíveis cenários, especialmente depois dos choques antiglobalização causados pela invasão da Ucrânia e a guerra comercial EUA vs China fazem de previsões um exercício inglório. A era do dinheiro fácil acabou e estamos vendo bancos centrais forçando recessões para controlar a inflação.

Eu acredito que em 2023 continuaremos vivendo com alta volatilidade, inflação e juros. Teremos um ano de baixo crescimento global, com recessões leves em diferentes países desenvolvidos, sendo os Estados Unidos o candidato a melhor performance.

No caso dos mercados emergentes, a reabertura da China é o grande definidor, pois afeta o preço das commodities, que “puxa” outros países. Estou mais otimista com este movimento, que pode beneficiar o Brasil no curto prazo. No longo prazo é impossível prever o que será dos emergentes.

Num cenário como esse, a tomada de risco, necessária para obtenção de retornos é uma tarefa árdua. Com essa visão de mundo, o que isso significa para nossa indústria?

Mais Opções de Investimentos

À medida que os juros subiram no mundo todo, a Renda Fixa voltou a ser uma boa alternativa. A correção no mercado de ações também abriu boas oportunidades nas ações listadas. O que isso quer dizer? Que o volume de capital para ativos alternativos, como Private Equity e Venture Capital, deve ser menor. Isso é reforçado por uma alocação agressiva nos últimos anos para estas estratégias por parte de investidores institucionais. Isso cria um ambiente de captação de recursos mais desafiador para estes produtos. Menos dinheiro entrando no ecossistema tem efeito cascata.

Os investidores estão lambendo as feridas de 2022 e sem um norte para 2023. É um ano em que investidores devem jogar mais na defesa, com maior diversificação e tomando riscos conscientes, onde existem oportunidades assimétricas.

Big Techs mais rentáveis, mas crescendo menos

Em sua carta para o management da Meta, o fundo Altimeter Capital diz que ”É um dos segredos mal guardado no Vale do Silício que empresas como Google, Meta, Twitter e Uber podem obter níveis de receita semelhante com bem menos pessoas”. Opinião semelhante é compartilhada por outros acionistas. Estamos numa economia em desaceleração, inflacionária e com risco de mudanças de comportamento (ex: TikTok) e de plataforma (ex: ChatGPT). O cenário não está fácil para estas empresas.

Acredito que as maiores empresas de tecnologia focarão em corte de custos e busca de eficiência, o que deve impactar seu crescimento, mas aumentará sua geração de caixa. A alocação desse caixa será tema de amplo debate, pois estas empresas estão se perguntando como serão seus negócios daqui a 20 anos. O motor de advertising de Meta e Google está claramente desacelerando, Microsoft e Apple estão buscando novas plataformas, Netflix buscando dinheiro em propaganda…

Se o mercado de tech for reagir esse ano, deve começar por estas empresas. Será um “Flight to Quality”.

Oportunidade da China

Empresas como Alibaba, Tencent, JD.com, Meituan e Pinduoduo estão sendo valorizadas a múltiplos 50% abaixo dos seus pares americanos. Concordo com Scott Galloway, de que mesmo com a instabilidade ao sair de uma politica de covid zero para abertura total, existe uma boa chance destas empresas terem boa performance no próximo ciclo. O bom funcionamento destas companhias é quase uma proxi de qualidade de vida na China.

Mais um ano difícil para as startups

As startups terão um difícil 2023. Enquanto várias diminuíram seu burn rate, a maioria ainda queima caixa e precisarão captar em 2023. Dado que a maioria das startups evitaram captar em 2022, deve existir um “congestionamento” de empresas indo a mercado. É verdade que existe  capital disponível, mas os investidores estão mais seletivos.

A dinâmica é: num mundo de juros a zero, os donos do capital precisaram tomar mais risco. Uma parte crescente desse capital foi para Venture Capital. O volume de capital dos últimos anos foi maior que o de oportunidades, inflando os preços das companhias. Com o aumento dos juros e forte correção nos preços, existe uma reorganização da alocação de ativos, saindo de venture, devido a sobre alocação (que só funciona quando o mercado sobe).

Dado que esse capital é ilíquido, sair de venture quer dizer não colocar dinheiro novo. Sendo assim, os fundos de venture capital sabem que devem fazer seus fundos durarem mais tempo que o normal.

Boas empresas com product market fit, unit economics saudáveis e times fortes vão levantar capital, mas será num patamar diferente de valuation. O “novo normal” é o que sempre foi, os últimos anos é que foram a exceção. Os valuations serão resetados para onde estavam uns 6-7 anos atrás. Esta nova dinâmica vai levar a muitas captações sendo feitas nos valuations de anos atrás, rodadas internas, menores ou com proteção aos investidores e estrutura.

Infelizmente um número grande de startups terão dificuldade em captar em 2023. Muitas irão fechar. Existe uma oportunidade de consolidação e boas equipes de M&A podem destravar valor. Passado esse período, acredito que retornaremos a um equilíbrio.

No lado operacional, muitas startups vendem para grandes empresas de tecnologia, startups ou consumindo o orçamento de TI de grandes corporações. Se estamos entrando num momento de busca de eficiência, será cada vez mais difícil vender, impactando o custo de aquisição, aumentando o churn e piorando o unit economics.

Como um amigo empreendedor me disse: “Edu, pensa comigo, o quão critico é o Slack se o Whatsapp é de graça e funciona no computador? Toda despesa pode ser revista”. Até o Elon Musk está cortando o papel higiênico do Twitter.

Venture Capital no Divã

O modus operandi do Venture Capital foi transformado na última década. O surgimento de novas plataformas computacionais (mobile e cloud) somado a um capital a custo zero, fez com que a estratégia artesanal de investir e ajudar a construir empresas se transformasse em uma indústria de selecionar startups que os VCs acreditavam serem capazes de captar uma rodada subsequente a um valuation maior liderado por fundos como Softbank e Tiger Global. Quem afirma isso não sou apenas eu, mas outros VCs, como o renomado Fred Wilson do USV.

Esse modelo acabou. Os investidores de late stage se retraíram, quebrando a cadeia de financiamento.

A primeira reação dos VCs foi de investir em startups mais early stage, a frase “no estágio semente as coisas continuam quente” virou lugar comum no mundo todo, mas os dados nos mostram que a atividade diminuiu na indústria inteira e o estágio semente não foi diferente.

Qual será o novo modelo de venture capital é difícil saber. Existem diferentes caminhos: (i) entrar em novos setores, mais arriscados; (ii) se focar em um nicho; (iii) voltar ao básico e apenas financiar empreendedores comprovados; (iv) desenvolver novas estratégias, como venture debt; (v) verticalizar.

Eu acredito que esse chacoalhão vai inclusive levar a um movimento de fechamento de fundos, aposentadoria de sócios, M&A, novos produtos, estratégias e reorganização da indústria de venture capital. Já estamos vendo alguns desses primeiros sinais…Vou escrever mais sobre isso no artigo da semana que vem.

E Crypto? Está difícil

Muito do que disse acima se aplica para crypto. A exceção na minha opinião é o Ethereum, que deve atrair interesse de investidores devido ao modelo econômico deflacionário.

O problema adicional que crypto tem é que existem entidades centrais ao ecossistema que estão insolventes e precisam ser reestruturadas. Talvez mais fundos estejam quebrados, alguns até nem sabem disso. Acredito que 2023 ainda será muito difícil para as empresas e projetos blockchain. Mas continuo com a minha convicção na tecnologia.

Boas notícias? Muitas: Geopolítica, IA, Espaço, Clima

Os especialistas acreditam que os riscos geopolíticos diminuíram vs 2022. Isso por si só já pode torna o tom desse artigo positivo.

Avanços recentes em Inteligência Artificial (tema do artigo de duas semanas) abrem novas possibilidades e ganhos de produtividade. A tecnologia espacial nunca esteve tão desenvolvida e estamos vendo um ecossistema vibrante em torno da SpaceX (tema do artigo de daqui a quatro semanas). Tecnologias de energia limpa e clima tem ótimos prognósticos, além de biotecnologia, ambos também serão temas de artigos do primeiro trimestre. O ponto aqui é que a tecnologia vai continuar a melhorar as nossas vidas, o que tem sido um dos principais drivers de impacto do mundo.

Precisamos aprender a separar o desenvolvimento tecnológico do preço dos ativos de tecnologia. Estes dois podem divergir no curto e médio prazo.

O ano não será fácil, mas vamos que vamos! Continuo escolhendo ser otimista e contem com o Bits, Stocks e Blocks para Educar e Informar.

Grande abraço,

DISCLAIMER: essa newsletter não é recomendação de investimentos. Seu propósito é puramente de entretenimento e não constitui aconselhamento financeiro ou solicitação para comprar ou vender qualquer ativo. Faça a sua própria pesquisa. Todas as opiniões e visões são pessoais do próprio autor e não constituem a visão institucional de nenhuma empresa da qual ele seja sócio, colaborador ou investidor.