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Oi pessoal, tudo bem? Esta semana vamos cobrir a blockchain mais importante do mundo, Ethereum. Vale lembrar que 1) O bsb não dá recomendações de investimentos, caso se interesse em investir, faça a sua própria pesquisa; 2) todas as opiniões neste blog são pessoais e não representam a opinião de qualquer organização da qual eu tenha vínculo empregatício, societário ou qualquer outro. 3) Eu invisto pessoalmente em Ethereum. Feito os devidos disclaimers, vamos ao texto.
🤗 Twitter: O Ethereum é um computador global e a camada de valor da Internet, sendo assim um pedaço fundamental de sua infraestrutura e um dos ativos mais interessantes do mundo
👍🏻 Nutella:
- O Ethereum é uma blockchain descentralizada, de código aberto (open source), que possui seu próprio crypto ativo, chamado de Ether, ou ETH. O Ethereum funciona como uma plataforma para diversos outros crypto ativos e também para rodar contratos inteligentes (“smart contracts”)
- O token ETH é várias coisas ao mesmo tempo: o dinheiro da Internet; o equivalente a uma ação da empresa “Ethereum Ltda”; um ativo que gera renda; uma reserva de valor; uma aposta no futuro da Web3
- O Ethereum é a mais dominante Layer 1 e possui o maior nível de tração juntos aos desenvolvedores. Possui problemas, mas que estão sendo resolvidos. É uma proxy para a economia Web3, cujo risco será reprecificado
- Dentre riscos vejo competição, volatilidade, regulação, execução ruim e valuation
👊🏻 Raiz:
O Ethereum é uma blockchain descentralizada, de código aberto (open source), que possui seu próprio crypto ativo, chamado de Ether, ou ETH. O Ethereum funciona como uma plataforma para diversos outros crypto ativos e também para rodar contratos inteligentes (“smart contracts”). O seu token é liquido e pode ser comprado em exchanges centralizadas (ex: Bitso, Mercado Bitcoin) ou descentralizadas (ex: Uniswap). Em 16/10/2022 tem um valor de mercado de ~US$ 155 bilhões. 1 ETH pode ser comprado por US$1.280 e existem cerca de 120 milhões de ETH em circulação. Em 2021 o Ethereum coletou ~US$10 bilhões em taxas de transação, um crescimento de ~20x contra o ano anterior.
Acima está uma descrição sóbria, mas qual a visão para o protocolo?
O Ethereum é um computador global e a camada de valor da Internet, um pedaço fundamental de sua infraestrutura. Até o surgimento do Ethereum, para fazer pagamentos na Internet precisávamos utilizar o sistema financeiro tradicional. Ele permite que as pessoas consigam construir aplicativos e produtos com dinheiro dentro do código, tirando a necessidade de usar itens como cartão de crédito para comprar na rede. Através do uso de contratos inteligentes, reduzimos a necessidade de intermediários e o custo de transação, aumentamos a confiabilidade. Isso leva a mais crescimento econômico devido ao aumento da eficiência. Estamos falando de potencialmente desintermediar empresas como marketplaces, cartórios, distribuidores dentre outros. Se você acredita que a web3 vai continuar a crescer, o corolário disso é que o Ethereum vai se tornar a camada de liquidação na nova Internet. Todos os tipos de transação, aconteçam elas no Ethereum, em outra blockchain, ou até mesmo numa Visa ou Matsercard poderão acontecer no Ethereum.
Dado que a maioria das pessoas hoje interagem apenas com token ETH, vale ressaltar que este também é várias coisas ao mesmo tempo:
- O dinheiro da Internet
- O equivalente a uma ação da empresa “Ethereum Ltda”
- Um ativo que gera renda
- Uma reserva de valor
- Uma aposta no futuro da Web3
Fonte: Not Boring
É importante falar brevemente sobre Bitcoin e a razão para a criação de uma segunda plataforma. O Bitcoin é uma blockchain em que um usuário não precisa de permissão para acessar (“permissionless”), é impossível ocorrer censuras (“censorship-resistant”), é anônima, a mais descentralizada de todas as blockchains e não necessita de confiança entre as partes para que ocorram transações entre diversas pessoas utilizando o seu token, o BTC (trustless). O BTC se propõe a ser imutável, sua aspiração é ser um “Ouro Digital”. Isso limita a sua flexibilidade, limitação esta que é exarcebada por sua comunidade, conservadora e contrária a qualquer mudança na rede. Dado o seu nível de descentralização, convencer >51% dos detentores de BCT a toparem uma mudança complexa se torna praticamente impossível.
Esse fato abriu espaço para uma segunda blockchain que fosse programável e generalizada. Como Chris Dixon do a16z gosta de dizer “O Bitcoin é uma calculadora, o Ethereum é um computador”. Em 2013 Vitalik Buterin escreveu um white paper descrevendo o Ethereum. Em 2014 os fundadores captaram US$18 milhões e em 2015 lançaram o token para o público. Desde então, o Ethereum teve vários upgrades e melhorias no seu código: “Constantinopla” em fevereiro/2019, “Istanbul” em dezembro/2019, “Muir Glacier” em janeiro/20, “Berlin” em abril/2021 e o mais recente, “London” em agosto/2021.
O Ethereum é considerado uma Camada 1 (Layer-1, L1), como explicado no artigo “Arquitetura Blockchain”, ou seja, é uma rede que consegue processar, validar, chegar a um consenso e finalizar transações sem a necessidade de qualquer outra rede.
Fundadores
O Ethereum foi fundado por oito pessoas, que se conheceram em 7 de junho de 2014 em Zug, na Suiça. O mais conhecido destes é Vitalik Buterin, dado que 1) Ele foi o autor do white paper da plataforma em 2013; 2) Ainda está envolvido na melhoria da plataforma e é um porta voz importante; 3) Digamos que ele é um cara, peculiar, vide foto.
Como o Ethereum gera receita?
A rede do Ethereum é formada por validadores, contratos inteligentes e usuários.
1) Quando um usuário interage com a rede e realiza uma ação, por exemplo comprar um token, ele paga uma taxa que é paga aos validadores, conhecida como “gas fee”, numa alusão deste ser o “combustível” da rede.
2) Enquanto esta taxa é considerada como receita para o Ethereum, a maior parte dela é utilizada para recompra de tokens ETH, num mecanismo semelhante a uma recompra de ações. No jargão técnico, se diz que esta parte da taxa é “queimada”. O restante é repassado aos validadores.
Tipos de Tokens
Existem diferentes tipos de tokens que podem existir no Ethereum. A tabela abaixo cobre cada um deles. Notem que já existem diferentes tipos de protocolos para as mais diversas funcionalidades. O ERC-721 foi coberto no artigo O ABC do NFT.
Estrutura dos Tokens do Ethereum
Bom, se não ficou claro até agora, eu sou otimista com o Ethereum e gostaria de apresentar a minha tese de investimentos e riscos para este ativo:
Tese de Investimentos
1) O Ethereum é a mais dominante Layer 1 e possui o maior nível de tração na maioria das métricas
Lembram do jargão do Marc Andreessen, “Força atrai mais força”? Isso vale aqui também. Ethereum é uma das redes mais antigas, testadas, densas e descentralizadas do mundo. Possui o maior número de ferramentas e projetos. Dentre estes, vale destacar a plataforma OpenSea, que é o maior marketplace de NFTs do mundo, além de jogos como o Axie Infinity e a Uniswap, a mais popular Exchange descentralizada.
A linguagem Solidity, desenvolvida especificamente para o Ethereum, foi amplamente aceita pela comunidade de desenvolvedores como fácil de usar e de rápida implementação. A popularidade da Ethereum Virtual Machine (EVM), que é um software que executa contratos inteligentes na rede Ethereum, continua crescendo.
De acordo com a Electric Capital, em Dezembro/2021 existiam mais de 4 mil desenvolvedores e mais de 220 mil validadores, fazendo desta uma das mais descentralizadas redes. Além disso, cerca de 2/3 de todo valor travado em contratos inteligentes em blockchains estão no Ethereum, de forma que podemos chama-la de “líder de mercado com vantagem sobre os competidores”.
O Efeito de Rede e densidade de talentos são duas barreiras de entrada fortíssimas em negócios de tecnologia e o Ethereum possui ambas.
2) Seus problemas estão sendo resolvidos e existe um robusto Roadmap de Produto
Uma das coisas mais legais de investir em tecnologia é a mutabilidade das coisas. Ethereum tem uma série de problemas, mas a comunidade e fundação está focada em resolve-los e os resultados tem sido muito bons.
- Problema: a rede é inflacionária, não existe um limite no número de tokens que podem ser emitidos.
- Solução: com o upgrade do EIP 1559, o processo de queima de tokens ficou mais simples e criou uma pressão compradora no token de forma que no médio prazo o Ethereum se tornará deflacionário. PS: EIP parece algo complexo, mas na verdade são as iniciais em inglês para “Proposta de Melhoria do Ethereum” e 1559 é o número da proposta 😉
- Problema: o mecanismo de consenso Proof-of-Work consome muita energia, estima-se que cerca de 0.2% da energia do mundo é usada para validar o Ethereum,
- Solução: ao migrar para o Proof-of-Stake no processo chamado de “The Merge” (“A Fusão”), o consumo de energia dos validadores caiu para menos de 1% do valor antigo. Vale dizer que o Merge já aconteceu cerca de um mês atrás e foi um sucesso. Esse evento foi muito importante e talvez valha a pena um texto próprio.
- Problema: é lerda e cara. O Ethereum consegue processar cerca de 19 transações por segundo. A Visa consegue fazer cerca de 1.700. As vezes uma simples transação pode sair mais de US$5 em gás e as mais complexas podem custar múltiplos disso.
- Solução: apesar da Fusão não melhorar a performance ou custo do Ethereum no curto prazo, ela é o primeiro passo de uma série de upgrades que a Fundação Ethereum planeja para a melhoria da rede. O próximo passo é um processo chamado de Sharding, focado exatamente na melhoria da escalabilidade e capacidade do Ethereum. Esse processo vai permitir a distribuição de dados de forma mais barata e fácil. Em cima do Ethereum, existe um ecossistema de projetos Camada 2 que buscam diminuir o custo das transações.
No futuro eu imagino que a maioria das transações serão feitas nas Camadas 2 a um custo baixo, estas serão agrupadas e aí sim processadas na rede Ethereum, que provavelmente não será utilizada por humanos, mas computadores. Seria algo semelhante ao que temos hoje, em que ninguém faz liquidação diretamente na B3, mas vai via uma corretora e ela quem faz isso. Isso deve cuidar também do problema de volatilidade.
3) Ethereum é uma proxy para a economia Web3
Investidores adoram ativos que se beneficiam de uma tendencia, mas não estão tão expostos a seus riscos. Um exemplo é o de um investidor americano está otimista com o crescimento do consumo na América Latina, é mais fácil e provavelmente menos arriscado simplesmente comprar a ação listada na Nasdaq do Mercado Libre. MELI tem liquidez, governança, segue as regras de auditoria americanas, é o disruptor e cobre todos os países do continente, etc.
Na minha opinião Ethereum é o melhor ativo que representa o crescimento da economia Web3 e da tecnologia blockchain em geral. Os principais usos e setores de Web3 acontecem em Ethereum. Por exemplo:
– Finanças Descentralizadas: um dos usos de blockchain de maior potencial, DeFi acontece em Ethereum. Estamos falando de um mercado potencial enorme. Apenas no segmento de pagamentos, se somarmos todo o volume transacionado estamos falando de algo da ordem de US$240 trilhões, em que Ethereum pode capturar uma taxa sobre parte desse valor.
– NFTs: a maior parte do mercado de arte crypto esta concentrado em Ethereum. OpenSea é mais de 50% do setor e roda na blockchain.
– Gamings: os principais jogos também estão em Ethereum. Lembrando que o mercado de gaming tem mais de 2.9 bilhões de jogadores e US$170 bilhões em receita em 2021.
4) Reprecificação do risco
Hoje o Ethereum é um ativo jovem, cheio de incertezas e volátil. Ao investir no Ethereum hoje, existe a chance de valorização devido a crescimento da rede, mas também em diminuição do risco percebido pelos investidores a medida que ele sai do risco de venture para um risco de infra.
Principais Riscos
1) Competidores: existem outras redes L1, sendo a mais famosa a Solana, que parecem superiores que o Ethereum em diferentes frentes.
2) Volatilidade: enquanto crypto ativos forem muito voláteis, sua utilidade sempre pode ser questionada por grandes instituições. Vol de 80% ao ano não é pra qualquer um, as vezes eu acho que nem é pra mim…
3) Regulação: risco para toda a indústria, regulação vira e Ethereum pode ser alvo direto delas devido ao fato de ter tanto destaque.
4) Atrasos: ao operar de forma descentralizada, o Ethereum enfrenta problemas de eficiência de gestão. Isso levou a atrasos e tinham piadas na Internet que a Fusão nunca iria acontecer.
5) Valuation: professores e especialistas em finanças ainda estão desenvolvendo metodologias para entender o valor das redes e tokens. A questão principal é que as receitas não vêm em moedas tradicionais, mas são denominadas no próprio token. No entanto a maioria dos investidores pensam em dólares. Isso gera uma complexidade adicional. Além disso, para justificar ganhos expressivos, temos que colocar premissas de curvas de adoção, difíceis de serem estimadas. Para dar um cheiro, ao simular adoções as da Internet, temos a possibilidade de retornos semelhantes aos dos melhores fundos de Venture Capital, mas tendo a liquidez equivalente de uma ação listada.
Resumo
Eu vejo o Ethereum como um investimento num pedaço fundamental da infraestrutura da Internet. Sua progamabilidade me lembra do Excel, que com suas funções e links consegue se conectar a diferentes aplicativos, do Capital IQ a Bloomberg, na mesma planilha. Isso é uma de muitas coisas que faz dele algo poderoso. Sobre valuation, fundamental para garantir uma boa margem de segurança, posso um dia escrever um texto sobre minhas visões. Para hoje, deixo apenas um pensamento: o computador global deveria valer menos que empresas como a Pepsi ou Mcdonalds?
Abraços, Edu
DISCLAIMER: essa newsletter não é recomendação de investimentos. Seu propósito é puramente de entretenimento e não constitui aconselhamento financeiro ou solicitação para comprar ou vender qualquer ativo. Faça a sua própria pesquisa. Todas as opiniões e visões são pessoais do próprio autor e não constituem a visão institucional de nenhuma empresa da qual ele seja sócio, colaborador ou investidor.